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Maré negra da Exxon-Valdez: 25 anos depois, o Alasca ainda guarda vestígios

Um quarto de século depois, a revolta dos moradores é a mesma no local da Exxon, rebatizada em 1999 de ExxonMobil

Agência France-Presse
postado em 24/03/2014 14:12
Arquivo: Exxon Valdez encalha em 24 março de 1989, derramando 11 milhões galões de petróleo bruto em Prince William Sound off Alaska
Washington- Uma noite glacial no Alasca. Um petroleiro carregado de barris de petróleo e um cardume inesperado: há 25 anos, o Exxon Valdez naufragava e espalhava 42 milhões de litros de petróleo, causando uma das piores marés negras da história. O líquido preto e viscoso matou mais de 250 mil aves, milhares de baleias, de lontras marinhas e peixes.

As imagens de biguás atolados em óleo alertaram os Estados Unidos sobre as questões ambientais e ajudaram a fortalecer as normas do transporte marítimo de petróleo. Por seu alcance, o desastre de 24 de março de 1989 foi superado apenas em 2010 pelo derramamento de petróleo no Golfo do México pela explosão da plataforma Deepwater Horizon. Mas o Alasca, o estado americano mais setentrional e cuja economia é em grande parte baseada na exploração dos recursos marinhos, nunca se recuperou totalmente do Exxon Valdez.

"Ainda hoje há muita amargura", diz Steve Rothchild, membro de uma associação que monitora as atividades do setor de petróleo na baía de Príncipe William, onde o Exxon Valdez encalhou. Um quarto de século depois, a revolta dos moradores é a mesma no local da Exxon, rebatizada em 1999 de ExxonMobil.


Para Rothchild o grupo americano não manteve a sua promessa "de reparar completamente os danos causados". "Após o julgamento, a população recebeu apenas alguns centavos e não os dólares que merecia", protestou. A gigante do petróleo foi condenada a pagar cinco bilhões de dólares aos 32.000 moradores e pescadores da região. Mas em junho de 2008, o Supremo Tribunal reduziu a multa para US$ 500 milhões.

A Exxon também gastou dois bilhões de dólares para a limpeza dos 2.000 km de costa e fundo marinho poluídos. Mas as populações de arenque e salmão não conseguiram se recuperar completamente e a pesca de certas espécies estão sujeitas a normas rígidas.

Surgimento de uma consciência ecológica


"A maré negra causou realmente mal à população local", lamenta Angela Day, cujo marido era um pescador no pequeno porto de Cordova antes de ter que abandonar tudo.

"Ele pescou por 30 anos, cresceu com a pesca. No momento do desastre, ele tinha dois barcos", lembra à AFP.

De acordo com ela, o derramamento de petróleo devastou a economia local e provocou o "aumento do consumo de álcool, alguns suicídios, muitos divórcios". Forçados a vender suas ferramentas de trabalho para pagar dívidas, os pescadores perderam seus meios de subsistência. "Meu marido não pagou nem um quarto do valor de seus dois barcos", diz Angela Day, autora de um livro sobre o Exxon Valdez.

Após o naufrágio do petroleiro, na madrugada de 23 a 24 de março de 1989, houve "o surgimento de uma consciência ecológica", acrescenta. "O desastre levou às pessoas a pensar sobre como iríamos encontrar a energia".

A nova legislação exige que todos os navios petroleiros que transitam pelo Estreito de Príncipe William tenham um casco duplo e sejam escoltado por dois rebocadores.

Mas a natureza ainda guarda cicatrizes.

É fácil encontrar bolsões de petróleo em enseadas isoladas. Um estudo realizado pela Exxon em 2010 mostrou que cinquenta praias ainda apresentam vestígios de hidrocarbonetos, representando um total de 2,5 km.

Felizmente, a maioria das espécies conseguiu sobreviver ao desastre. "A baía de Príncipe William tem um ecossistema em funcionamento. A água está limpa", diz Rothchild. "A natureza é uma coisa maravilhosa, a natureza faz o seu trabalho, ela é capaz de se regenerar".

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