Paris - A extrema direita registrou um forte avanço nas eleições municipais do último domingo na França, nas quais a esquerda sofreu um duro retrocesso e a direita, um discreto progresso. Segundo dados provisórios anunciados pelo ministro do Interior, Manuel Valls, a direita francesa obteve 46,54% dos votos; a esquerda, 37,74%, e a extrema-direita, 4,65%, ao final do primeiro turno.
A presidente da Frente Nacional, Marine Le Pen, que se referiu ao resultado como "inesperado", comemorou a "colheita excepcional" conseguida por seu partido e "o fim da bipolarização da vida política francesa". O porta-voz do Partido Socialista (PS), David Assouline, criticou a "alta importante e inquietante" da extrema direita. O presidente da UMP, Jean-François Copé, assegurou que as condições para uma "grande vitória" do partido de direita estavam reunidas com vistas ao segundo turno de 30 de março. "É capital que aquelas e aqueles que votaram na Frente Nacional para expressar sua ira e exasperação contra a esquerda deem seus votos aos candidatos da UMP no segundo turno", disse Copé. A UMP anunciou que não fará aliança com a FN.
Bofetada para a esquerda
As eleições foram marcadas por uma forte abstenção, ao redor de 35%, segundo as pesquisas. Tratou-se do primeiro teste eleitoral importante desde a chegada ao poder do socialista François Hollande, há quase dois anos. "A bofetada antecipada chegou efetivamente para a esquerda", avaliou Gael Sliman, diretor do instituto BVA, que divulgou a pesquisa de boca-de-urna. Um total de 44,8 milhões de eleitores, entre eles 280 mil cidadãos de outros países da União Europeia, estavam habilitados a votar nestas eleições tradicionalmente dominadas por questões locais e às quais se apresentaram 930 mil candidatos.
A reta final da campanha foi monopolizada pela polêmica das escutas telefônicas feitas por ordem judicial contra o ex-presidente Nicolas Sarkozy (UMP, direita), cujo conteúdo vazou na imprensa. Implicado em várias ações na Justiça, Sarkozy se defendeu comparando a França a uma ditadura, o que o presidente François Hollande qualificou de "intolerável".
O episódio ocorreu depois de três semanas difíceis para a UMP em virtude de vários escândalos de corrupção, da revelação de gravações secretas feitas pelo ex-conselheiro de Sarkozy, Patrick Buisson, e o caso das escutas contra o ex-presidente que parecem confirmar as acusações de obstrução da justiça feitas contra ele. Mas a esquerda não se isentou de escândalos em suas próprias fileiras no ano passado e a Frente Nacional (extrema direita) parece ter tirado proveito do descrédito da classe política tradicional.