A Ucrânia se aproximou um pouco mais da União Europeia (UE) com a assinatura de um acordo de associação nesta sexta-feira, um dia após europeus e americanos aumentarem a lista de sancionados pela anexação da Crimeia à Rússia.
O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, assinou os capítulos políticos do acordo com os 28 chefes de Estado e de governo do bloco, reunidos em Bruxelas. O pacto é o mesmo que o presidente ucraniano destituído Viktor Yanukovytch havia desistido de assinar em novembro, optando, em troca, por estreitar seus laços com a Rússia.
Esta guinada provocou uma onda de protestos que conduziram em fevereiro à destituição do presidente pelo Parlamento. Com a assinatura desta sexta-feira, a UE espera enviar "um sinal concreto da solidariedade europeia com a Ucrânia", disse o presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy. Os europeus se declararam determinados em assinar os outros capítulos deste acordo de 1.200 páginas, essencialmente comercial, econômico, financeiro e judicial, antes do fim do ano, sem que isso implique o início de negociações de adesão no médio prazo da Ucrânia ao bloco.
A assinatura ocorre cinco dias após o referendo mediante o qual os habitantes da península da Crimeia decidiram por esmagadora maioria se separar da Ucrânia para se integrar à Rússia, em meio ao maior confronto entre o Leste e o Oeste desde o desmembramento da URSS, no início dos anos 90. A UE prometeu no dia 5 de março um pacote de ajuda de 11 bilhões de euros às novas autoridades da Ucrânia, dos quais pode desembolsar o primeiro 1,6 bilhão após a assinatura deste acordo, desde que Kiev também alcance um compromisso com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A UE também decidiu nesta cúpula adiantar para junho, no mais tardar, a assinatura de outro acordo similar destinado a reforçar a associação política e a integração econômica da Geórgia e da Moldávia, outras ex-repúblicas soviéticas. - Chuva de sanções - A UE congelou na quinta-feira os bens e proibiu a entrada em seu território de doze novas personalidades russas e ucranianas, elevando a 33 a lista de sancionados. Os novos nomes devem ser publicados nesta sexta-feira no Boletim Oficial da UE.
[SAIBAMAIS]Van Rompuy antecipou que alguns têm cargos muito altos e uma fonte diplomática disse que entre eles há figuras do círculo íntimo do presidente russo, Vladimir Putin. Segundo o presidente francês, François Hollande, a lista será similar à estabelecida pelos Estados Unidos, que na quinta-feira acrescentaram outros 20 nomes, elevando o total a 31, a sua própria lista de sancionados. Entre eles figura o "banqueiro de Putin", o magnata Yuri Kovalchuk, principal acionista do banco Rossiya.
A Rússia respondeu imediatamente com sanções contra nove personalidades americanas, entre elas três assessores de Obama e vários senadores, como John McCain e Robert Menendez. Europeus e americanos, que seguem buscando um diálogo com Moscou, também deixaram a porta aberta para eventuais sanções econômicas e financeiras se a Rússia prosseguir com seu avanço no leste da Ucrânia. Yatseniuk insistiu nesta sexta que a UE que imponha sanções econômicas para frear as ambições da Rússia depois da incorporação da Crimeia.
"A melhor maneira de conter a Rússia é impor uma verdadeira pressão econômica", declarou Yatseniuk ante os jornalistas reunidos em Bruxelas, ao ser indagado se a "Rússia decidiu impor uma nova ordem mundial". Em Moscou, o Conselho da Federação (Câmara Alta) ratificou nesta sexta-feira o tratado que sela a anexação da Crimeia, como já fez na véspera a Câmara Baixa. Na quinta-feira na Crimeia, um grupo de homens armados se apoderou da corveta ucraniana "Ternopil", ancorada em Sebastopol.
"Durante o ataque foram utilizadas bombas de efeito moral e ouvidas rajadas de armas automáticas", anunciou um porta-voz ucraniano. Yatseniuk advertiu que a Ucrânia responderá militarmente a qualquer tentativa russa de anexar as regiões do leste pró-russo do país. A Rússia afirma, no entanto, que não tem a intenção de invadir o leste da Ucrânia. Em Kiev, o Parlamento adotou na quinta-feira uma resolução que afirma que a Ucrânia não "reconhecerá jamais a anexação da Crimeia por parte da Rússia e não cessará em sua luta pela libertação da Crimeia, por mais longa e dolorosa que seja".