Kiev - Forças pró-Rússia ocuparam nesta quarta-feira duas bases da Marinha ucraniana na Crimeia, consolidando seu controle sobre a província, enquanto as tropas da Ucrânia anunciavam sua retirada do enclave sobre o Mar Negro.
As milícias pró-Moscou ocuparam ao menos duas bases ucranianas na Crimeia e capturaram o contra-almirante Serguii Gaiduk, chefe da Marinha, durante a tomada do comando da força em Sebastopol.
Segundo a agência de notícias local Kryminform, Gaiduk foi conduzido à sede da procuradoria para interrogatório sobre a ordem enviada por Kiev autorizando os soldados ucranianos a utilizar suas armas.
[SAIBAMAIS]As forças pró-Rússia na Crimeia também ocuparam a base Sul da Marinha ucraniana em Novoozerne, oeste da península, após derrubar o portão com um trator, informou o ministério ucraniano da Defesa.
O subcomandante da base declarou à AFP por telefone que homens das milícias entraram no edifício primeiro, seguidos por um grupo de mulheres e crianças. Os soldados russos chegaram depois.
Kiev reagiu dando um prazo de três horas para que as autoridades da Crimeia libertem Gaiduk, decidiu estabelecer a obrigação de visto para os cidadãos russos e abandonou a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), que reúne 11 ex-repúblicas soviéticas.
O presidente ucraniano interino, Olexander Turchynov, "deu ao poder autoproclamado da Crimeia três horas para libertar todos os reféns", entre eles, o almirante Serguii Gaiduk, e ameaçou adotar "medidas adequadas" de represálias.
São "reféns militares e civis", destacou Kiev, sem especificar seu número, ou sua identidade. As bases militares ucranianas na Crimeia estavam cercadas há várias semanas pelas forças russas e pró-Moscou.
Paralelamente, a Ucrânia prepara um plano para a retirada dos militares e de seus familiares, anunciou o secretário do Conselho de Segurança Nacional e da Defesa, Andrii Parubii.
Foi Parubii que anunciou que o Ministério das Relações Exteriores ficou encarregado de introduzir um regime de vistos com a Rússia e que a Ucrânia iniciou o processo para saída da CEI.
Essa medida tem uma importância principalmente simbólica, mas também significa que a Ucrânia, um grande país industrial e agrícola, tenta se distanciar ainda mais da zona de influência russa.
Obama descarta ação militar
O presidente americano, Barack Obama, descartou nesta quarta-feira qualquer ação militar na Ucrânia, e defendeu uma sólida frente diplomática para discutir a crise com a Rússia.
"Não vamos realizar uma incursão militar na Ucrânia", garantiu Obama em entrevista à rede de televisão NBC News. "Os próprios ucranianos reconhecem que enfrentar a Rússia por meios militares não seria apropriado ou benéfico".
"O que faremos é mobilizar todos os nossos recursos diplomáticos para garantir que haja uma coordenação internacional forte que envie uma mensagem clara" à Rússia. "O poder não confere automaticamente direitos. Continuaremos aumentando a pressão sobre a Rússia, que prossegue seu avanço".
Já a embaixadora americana junto à ONU, Samantha Power, advertiu que o que ocorreu na Crimeia "não pode se repetir em outras partes da Ucrânia", afirmando que Washington está pronto para adotar medidas adicionais em caso de nova agressão ao território ucraniano.
"Um ladrão pode roubar algo, mas isto não confere o direito de propriedade ao ladrão. O que a Rússia fez foi um erro em matéria de direito, errado em matéria de história, um erro perigoso em matéria de política", disse Power.
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O embaixador russo, Vitaly Churkin, reagiu à declaração afirmando que os "insultos dirigidos a seu país são inaceitáveis". "A senhora Power deve entender isto caso a delegação dos Estados Unidos deseje nossa cooperação em outros temas no Conselho de Segurança".
Churkin afirmou que o referendo realizado no domingo - que decidiu pela anexação à Rússia - foi "a expressão da liberdade do povo da Crimeia", e voltou a acusar Kiev e os países do ocidente pela atual crise.
Na terça-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, assinou um tratado histórico com as autoridades separatistas, anexando a península à Rússia. O Tribunal Constitucional russo validou por unanimidade o tratado de anexação.
G7 estuda exclusão da Rússia
O G7, cujos líderes se reunirão na segunda-feira em Haia, tentam chegar a um acordo sobre uma resposta de impacto às ações da Rússia, mas descartando sanções econômicas que possam afetar seus próprios interesses.
Nesse sentido, deverão discutir a "expulsão permanente da Rússia" do G8, segundo o primeiro-ministro britânico, David Cameron.
"Acredito que temos de discutir se expulsaremos, ou não, permanentemente a Rússia do G8, caso ela tome mais medidas" que promovam uma escalada na Ucrânia, disse Cameron no Parlamento britânico.
Segundo Downing Street, Cameron conversou por telefone sobre a Ucrânia com a chanceler alemã, Angela Merkel. Ambos concordaram que a "União Europeia deve tomar outras medidas contra a Rússia", além das já anunciadas.
A passagem da Crimeia para o controle da Rússia, já ilustrada pela chegada do rublo e pela "nacionalização" de companhias públicas ucranianas, começa a impactar a economia da península.
O maior banco ucraniano, o PrivatBank, anunciou o fim de todas as suas atividades na Crimeia, "em razão da incerteza sobre o status jurídico do sistema bancário da península".
Todas as agências permaneceram fechadas nesta quarta-feira, e multidões se aglomeravam em frente a outros estabelecimentos da região que haviam adotado, na véspera, o rublo como moeda oficial.