Bruxelas - Os líderes europeus, que vão se reunir entre quinta (20/3) e sexta-feira (21/3), tentarão chegar a um acordo sobre uma resposta de impacto após a anexação da Crimeia à Rússia, mas descartando sanções econômicas que possam afetar seus próprios interesses.
"Permanecer unidos" é a prioridade declarada dos 28 países membros antes desta segunda reunião de cúpula dedicada à crise ucraniana em duas semanas.
Em Bruxelas, Angela Merkel, François Hollande, David Cameron e outros 25 chefes de Estado e de Governo devem anunciar medidas consensuais, como o cancelamento da cúpula Rússia-UE em Sochi, agendada para junho, de acordo com fontes diplomáticas.
[SAIBAMAIS]A UE também pretende expandir a lista de personalidades russas e ucranianas pró-russas proibidas de adquirir vistos e que tiveram bens congelados. Essas sanções específicas adotadas na segunda-feira não atingem Moscou diretamente, já que envolvem oito autoridades da Crimeia e 13 parlamentares e militares russos.
"Nenhuma decisão política" foi tomada até o momento sobre a inclusão de novos nomes à lista, segundo um diplomata. As discussões estão centradas principalmente em medidas para atingir "diretamente a comitiva de Vladimir Putin" e os "oligarcas", empresários que controlam grande parte da economia russa.
Mas os europeus devem se manter cautelosos, porque "é necessário deixar canais de diálogo abertos" com o Kremlin, considera outro diplomata. "Nossa prioridade é, mais do que nunca, reduzir a tensão" em torno da Ucrânia. Punir os oligarcas equivaleria a sanções econômicas, uma questão muito sensível na UE.
Existem divergências significativas entre os países que exigem tais medidas e aqueles que são hostis, porque seriam as primeiras vítimas, e outros que apoiam desde que não os afete.
Sanções econômicas, uma dor de cabeça
"No curto prazo, o mais eficaz é uma combinação de sanções contra indivíduos ou empresas, e restrições a exportações de produtos dos quais a Rússia depende, tais como máquinas, produtos químicos e medicamentos", indica o centro de reflexão Open Europe, com sede em Londres.
Mas tais medidas preocupam os industriais na Alemanha, de longe, o maior parceiro comercial da Rússia, onde 6 mil empresas alemãs estão implantadas.
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Outros países, como a Grécia, Finlândia e Bulgária, temem possíveis retaliações, sobretudo no fornecimento de gás. Individualmente, a França procura preservar a venda de dois navios de guerra Mistral à Rússia; e o Reino Unido, a popularidade de empresas russas para a City de Londres.
O desafio para os 28 países é definir as sanções que "tenham o maior impacto possível sobre a economia russa e o menor sobre os europeus", o que "não é fácil", alerta uma fonte francesa.
Além disso, a crise ucraniana obriga a UE a "reexaminar profundamente" a sua dependência energética em relação à Rússia, principalmente da gigante Gazprom, indica um diplomata britânico. Ameaçar com uma diversificação maior das fontes de abastecimento poderá fazer com que Moscou pense em seus atos, segundo ele.
Em Bruxelas, outra prioridade será afirmar o apoio ao novo regime ucraniano. Eles vão assinar na sexta-feira com o primeiro-ministro interino Arseniy Yatsenyuk o acordo político de associação UE-Ucrânia.
Essa assinatura "confirmará a decisão livre e soberana da Ucrânia de prosseguir com a sua integração política e econômica com a UE", garante o Conselho Europeu.
Esta etapa representa uma revanche para a UE, quase quatro meses depois da repentina desistência do ex-presidente ucraniano, Viktor Yanukovytch, que desencadeou a crise. Mas, sem dúvida, essa iniciativa será considerada uma provocação por Moscou.