Caracas - Jornais de países latino-americanos ofereceram papel a alguns veículos impressos venezuelanos que estão ficando sem o insumo, informaram seus diretores, que acusam o governo de privá-los dos dólares necessários para a compra do material, em um país de controle cambial.
"A solidariedade dos meios impressos do continente foi brutal. Vão fazer envios de papel", principalmente da Colômbia, aos jornais venezuelanos, declarou em entrevista coletiva Miguel Henrique Otero, presidente-editor do jornal "El Nacional", um dos três maiores da Venezuela.
Segundo Otero, as reservas de papel de "El Nacional" garantem a circulação até início de maio. Pelo menos dez jornais já deixaram de circular, ou reduziram o número de páginas de seus cadernos, entre eles "El Nacional" e "El Impulso", o mais antigo da imprensa venezuelana com 110 anos nas ruas. O problema são os atrasos, por parte do governo, na concessão de recursos para a aquisição de papel que os jornais compram de empresas estrangeiras. A Venezuela não produz esse papel.
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Otero informou ainda que, desde maio de 2013, o "Nacional" não recebe as divisas, apesar de já ter cumprido os 19 trâmites previstos nesse processo. "Isso é intencional (...). Não há dúvida alguma de que se trata de uma política de Estado para acabar com a imprensa independente", criticou.
"El Nacional" foi um dos jornais particularmente críticos ao governo e que se tornou alvo de acusações públicas do presidente Nicolás Maduro, que se refere a ele como "El Nazi-onal".
O atraso no repasse de dólares a determinados jornais "é uma decisão absolutamente cirúrgica", disse o presidente do "El Impulso", Carlos Carmona, que há três semanas publica com papel brilhante para revista e enfrenta "um futuro incerto" sobre futuras entregas.