Carcóvia - A tensão na Ucrânia aumentou na véspera do referendo sobre a anexação da Crimeia à Rússia, com a morte de duas pessoas em Carcóvia e a denúncia das autoridades ucranianas de uma "invasão russa" no sudeste do país.
Os diplomatas ocidentais não conseguiram neste sábado que o Conselho de Segurança das Nações Unidas, reunido de urgência em Nova York, aprovasse uma resolução contra o referendo de domingo na Crimeia, depois que a Rússia impôs seu veto.
Cerca de 1,5 milhão de habitantes da península da Crimeia deverão confirmar no domingo em uma consulta a decisão do Parlamento da Crimeia de formar parte da Rússia.
A comunidade internacional, como o Conselho da Europa, e as autoridades de Kiev consideram esta votação ilegítima.
[SAIBAMAIS]A Rússia cedeu esta península à Ucrânia em 1954, quando as duas ex-repúblicas formavam parte da URSS. No entanto, Moscou manteve no porto de Sebastopol, na Crimeia, a base de sua frota no Mar Negro.
Kiev acusou neste sábado Moscou de ter invadido militarmente a localidade de Strilkove, situada na Ucrânia continental, perto da fronteira administrativa com a região autônoma da Crimeia, com 80 soldados, helicópteros e veículos blindados de combate.
O ministério ucraniano das Relações Exteriores pediu em um comunicado a retirada imediata destas forças e ameaçou responder com "todos os meios necessários para deter a invasão militar russa".
Washington reagiu imediatamente. A embaixadora americana nas Nações Unidas declarou que um avanço russo no sul da Ucrânia "seria uma escalada ultrajante".
No entanto, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, havia garantido durante a manhã que seu país "não tem, e não pode ter, planos para invadir a região sudeste da Ucrânia".
Strilkove não é a primeira posição ocupada pelas forças russas fora da região da Crimeia. O posto de controle de Chongar, um quilômetro ao norte da fronteira com a península da Crimeia, também está controlado por forças russas e milícias pró-russas.
Nesta península, um capelão militar de uma igreja católica ucraniana de rito oriental foi colocado em liberdade, depois que homens armados o sequestraram neste sábado em Sebastopol, indicou a polícia.
O padre Liubomir Yavorski, que informou anteriormente sobre o sequestro, denunciou as ameaças recebidas pelos sacerdotes de sua igreja na Crimeia.
A Rússia também anunciou a interceptação na sexta-feira de um drone americano de reconhecimento quando sobrevoava a Crimeia.
Na Crimeia, uma grande maioria certamente deve se pronunciar a favor de uma união formal com a Rússia ainda mais com o pedido de boicote ao referendo feito pelas minorias ucraniana e tártara, que constituem 37% da população.
A comunidade internacional julga a consulta ilegítima ou inconstitucional, mas ao final de duas semanas de intensas negociações diplomáticas não conseguiu impedir o referendo.
Em Kiev, o presidente interino da Ucrânia, Olexandre Turchynov, lançou um último apelo aos habitantes da Crimeia a algumas horas da abertura das seções eleitorais. "Peço que cada morador da Crimeia se mostre responsável pelo seu futuro e não acredite em falsas promessas que levarão a região a uma catástrofe social e econômica", disse, pedindo para que os eleitores ignorem "esta provocação do Kremlin".
Veto russo e abstenção chinesa
Em Nova York, o projeto de resolução apresentado pelos países ocidentais contra o referendo na Crimeia recebeu 13 votos a favor dos 15 membros do Conselho de Segurança. No entanto, a Rússia, um dos cinco membros permanentes, utilizou seu direito de veto para rejeitar a resolução.
Os Estados Unidos haviam redigido um texto moderado para tentar obter o aval de Pequim, que, no entanto, optou pela abstenção, o que isola Moscou um pouco mais.
O embaixador russo, Vitali Churkin, justificou seu voto reiterando que as novas autoridades da Ucrânia são o resultado de um golpe de Estado e advertiu que a Rússia "respeitará a vontade do povo da Crimeia".
A embaixadora americana, Samantha Power, comemorou a "oposição esmagadora às perigosas ações" de Moscou, que, segundo ela, terão consequências.
O veto russo era dado como certo após o fracasso, na sexta-feira em Londres, de uma reunião russo-americana, considerada a última oportunidade para tentar alcançar um acordo sobre a crise na Ucrânia.
Depois de fracassar em sua tentativa de mudar a política de Putin sobre a Ucrânia, os países europeus buscam outras alternativas para apoiar as novas autoridades de Kiev.
Os ministros das Relações Exteriores da UE poderão adotar na segunda-feira sanções contra a Rússia em uma reunião em Bruxelas.
Além disso, a Ucrânia assinará o trecho político do acordo de associação com a UE no dia 21 de março em Bruxelas, anunciou o primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk. A parte econômica será assinada mais adiante.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afastou a ideia de uma nova "guerra fria".
"Nós esperamos, com todo nosso coração, termos coragem suficiente, assim como nossos parceiros, para que não entremos num conflito mais profundo no território ucraniano", disse Peskov, garantindo "a busca pelo diálogo com os líderes europeus e com o presidente dos Estados Unidos".
A ideia de isolamento da Rússia no cenário internacional é "absurda;, disse Peskov.
Auxílio
Em Moscou, a posição do presidente russo, Vladimir Putin, na crise ucraniana é firme.
Cerca de 50.000 pessoas protestaram neste sábado contra a ocupação russa da Crimeia em uma manifestação convocada por um grupo opositor, enquanto 15.000 pessoas apoiavam perto da praça da Revolução de Moscou a política do Kremlin.
A Rússia anunciou neste sábado que examinará os muitos pedidos de auxílio de habitantes da Ucrânia e denunciou os ataques de nacionalistas ucranianos no leste de língua russa do país.