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Rússia ignora pressão americana e não impedirá referendo na Crimeia

A companhia estatal russa de armamentos Rostekhnologuii (Rostec) afirmou que um avião de reconhecimento dos Estados Unidos foi interceptado em alta altitude acima da Crimeia

O governo russo ignorou os pedidos dos Estados Unidos e seus aliados e não impedirá o referendo de adesão da Crimeia à Rússia, previsto para o próximo domingo e que ameaça desmembrar a Ucrânia.

Os ministros das Relações Exteriores russo e americano, Serguei Lavrov e John Kerry, respectivamente, não chegaram a nenhum acordo para resolver a crise durante uma reunião de seis horas na residência do embaixador americano em Londres.

Ao final do encontro, Lavrov afirmou que Moscou e Washington não conseguiram aproximar suas posições sobre a Ucrânia e que seu governo respeitará a vontade da Crimeia no referendo de adesão à Rússia.

Já Kerry reiterou que haverá sanções caso o referendo seja realizado.

A reunião - a quarta entre Kerry e Lavrov em apenas oito dias - ocorre a menos 48 horas do referendo, que contará com a vigilância das tropas russas.

Neste sentido, Kerry afirmou que é improvável que o presidente russo Vladimir Putin tome alguma decisão para frear a escalada na Ucrânia até a realização do referendo nesta península autônoma, enquanto Lavrov garantiu que a Rússia "não tem planos de invadir a região sudeste da Ucrânia".



Contudo, horas antes, Moscou ameaçou intervir na situação, justificando que as "autoridades de Kiev não controlam a situação no país", no dia seguinte à violentos confrontos em Donetsk, que terminaram com a morte de um manifestantes partidário da unidade da Ucrânia por pró-russos.

"A Rússia tem consciência de sua responsabilidade sobre a vida de seus concidadãos e compatriotas na Ucrânia e se reserva o direito de protegê-los", afirmou o ministério das Relações Exteriores em um comunicado.

A tensão na Crimeia é o último episódio de uma crise iniciada com os protestos contra o presidente ucraniano Viktor Yanukovytch, aliado do russo Vladimir Putin, sua destituição e a instalação de um governo favorável a uma aproximação da Ucrânia com a União Europeia.

A Crimeia, cuja população é majoritariamente de origem russa, respondeu com um plano para separar-se da Ucrânia.

A Rússia, por sua vez, enviou tropas para esta região ucraniana, que abriga sua frota no Mar Negro desde o século XIX.

Mas a Crimeia pode ser o primeiro passo do desmembramento da Ucrânia, se outras províncias do leste de língua russa decidirem seguir o mesmo caminho, tal como sugeriu o líder pró-russo da Crimeia Serguei Axionov.

- A hora das sanções -

A vitória dos pró-russos da Crimeia esta assegurada - os eleitores terão que escolher "entre sim e sim", considerou o ministro das Relações Exteriores francês, Laurent Fabius - e a região pode demorar "até um ano" para juntar-se à Rússia, à qual pertenceu até 1954, segundo o auto-proclamado premiê da região, Sergei Axionov.

Mas o processo vai encontrar resistência por parte da comunidade internacional.

"Se o referendo ocorrer, haverá sanções", "haverá consequências", prometeu Kerry após a reunião de Londres.

[SAIBAMAIS]"Se o referendo for realizado e não encontrarmos uma solução diplomática, a União Europeia vai se reunir e discutir os próximos passos", disse, por sua vez, o chanceler britânico, William Hague.

As sanções alcançariam "de 25 a 30" personalidades da Ucrânia e da Rússia, indicaram as duas fontes diplomáticas nesta sexta-feira.

Crimeia é uma república autônoma da Ucrânia de 27.000 km2 e de dois milhões de habitantes, a maioria de língua russa.

O líder histórico da minoria tártara, Djemilev Mustafa, pediu um boicote do referendo e à Otan para intervir "antes de um massacre". Durante uma visita a Bruxelas, transmitirá esta mensagem aos chefes da Aliança Atlântica.

Apesar do impasse, o presidente Barack Obama afirmou que mantém as esperanças de que se consiga uma solução diplomática para a crise, advertindo que, em caso contrário, haverá consequências para a Rússia.

- Drone americano na Crimeia -

Enquanto Moscou continua a organizar manobras militares na região de Rostov, perto da fronteira ucraniana, um drone americano foi interceptado na Crimeia, de acordo com uma companhia estatal russa.

Cerca de 4.000 paraquedistas, 36 aviões e 55 veículos participam das manobras militares, segundo a agência oficial Itar-Tass.

A companhia estatal russa de armamentos Rostekhnologuii (Rostec) afirmou que um avião de reconhecimento dos Estados Unidos foi interceptado em alta altitude acima da Crimeia.

"O drone (avião não-tripulado) estava voando a cerca de 4.000 metros e estava praticamente invisível a partir do chão. Foi possível quebrar a ligação com seus operadores americanos graças a um complexo combate rádio-eletrônico Avtobaza", segundo a Rostec.

"O drone MQ-5B faz parte, a julgar pelo número de identificação, da 66; brigada de reconhecimento militar americana, com base na Baviera", indicou a companhia.