A socialista Michelle Bachelet assumiu nesta terça-feira pela segunda vez a presidência do Chile, para um mandato de quatro anos, com a promessa de conduzir profundas reformas em um país marcado pela desigualdade.
A cerimônia, solene e simbólica, ocorreu na sede do Congresso chileno, em Valparaíso. Bachelet, que já governou o país entre 2006 e 2010, estava visivelmente emocionada.
A senadora socialista Isabel Allende, sua companheira de partido, também assumiu nesta terça-feira como a primeira mulher a presidir o Senado chileno.
"A imagem histórica de duas mulheres ocupando simultaneamente os dois cargos mais importantes do Estado percorrerá o mundo", afirmou a senadora. Isabel é filha de Salvador Allende, presidente deposto no golpe militar de 1973, comandado por Augusto Pinochet. Antes da presidência, Allende ocupou o mesmo carro assumido hoje pela filha.
Antes de abandonar a sede do governo, o ex-presidente Sebastián Piñera afirmou deixar a presidência "de cabeça erguida", seguro de ter entregado "um país melhor do que tínhamos há quatro anos".
Promessa de mudança
As mudanças prometidas por Bachelet criaram grandes expectativas, em um país com alto crescimento econômico, mas com grande desigualdade social.
"Assumo com a consciência e a responsabilidade de que temos um programa a cumprir", afirmou a presidente, em sua primeira declaração depois da posse.
Para a educação, Bachelet propôs gratuidade a nível universitário em seis anos e acabar com o lucro de colégios privados que recebem subsídios do governo, onde estudam a maior parte dos chilenos.
As medidas foram os maiores pedidos dos estudantes que realizaram enormes protestos em 2011. No entanto, os estudantes observam com desconfiança as promessas, e anunciaram que vão manter os protestos. Para financiar essa mudança, a presidente pretende realizar outra reforma, a tributária, buscando arrecadar 8,2 bilhões de dólares (3% do PIB do país).
A líder socialista também propôs uma nova Constituição, para substituir a imposta durante a ditadura de Pinochet.
Ausência de Maduro
Acompanharam a cerimônia os presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, Argentina, Cristina Kirchner; Bolívia, Evo Morales; Equador, Rafael Correa; México, Enrique Peña Nieto; Paraguai, Horácio Cartes; Peru, Ollanta Humala; Uruguai, José Mujica; entre outros.
Os Estados Unidos foram representados por seu vice-presidente, Joe Biden, e a Espanha enviou o príncipe de Astúrias, Felipe de Borbón.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tinha anunciado sua presença, mas cancelou a visita, e foi representado pelo chanceler Elias Jaua. O ministro afirmou, ao chegar em Santiago, que seu país enfrentou "uma tentativa violenta de deposição", que já foi neutralizada.
Segundo anunciou Dilma Rousseff, será realizada nesta quarta em Santiago, por iniciativa venezuelana, uma reunião dos chanceleres da União Sul-americana de Nações (Unasul) para tratar da crise no país, que vive há cerca de um mês uma onda de protestos, que já deixou 21 mortos.
Congresso favorável
Pediatra, separada e mãe de três filhos, Bachelet tornou-se, em 2006, a primeira mulher a ocupar a presidência do Chile.
Para seus 100 primeiros dias de governo, estão previstas 50 medidas, que traçarão o caminho das reformas prometidas. O governo conta com as maiorias necessárias no Congresso para passar a reforma tributária, mas precisará aliar-se a oposição e a setores independentes para aprovar as reformas da educação e da Constituição.
Analistas acreditam que as mudanças constitucionais serão as mais difíceis, por necessitar quóruns altíssimos.
Bachelet deve enfrentar divergências dentro de sua ampla coalizão, que inclui democratas-cristãos, socialistas e comunistas. Esses últimos compõem um governo pela primeira-vez em 40 anos, desde o governo de Allende.
A presidente também lidará com uma sociedade mais exigente: quatro de seus vice-ministros foram derrubados antes de assumir, acusados de conflitos de interesse e, um deles, por atentado ao pudor.