, alcançando 5,5 milhões, segundo um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) publicado nesta terça-feira. No relatório, com o título "Em estado de sítio - três anos de conflito devastador para as crianças na Síria", a Unicef afirma que há um milhão de crianças em áreas sitiadas ou inalcançáveis que requerem mais ajuda humanitária.
Além disso, fora do país 1,2 milhão de crianças estão refugiadas e vivem em condições nas quais a água potável, a comida e o acesso à educação são limitados. Mas nenhuma das partes que se enfrentam na Síria parece, no momento, se aproximar da vitória. A insurreição nasceu em março de 2011 com manifestações pacíficas, duramente reprimidas, que levaram a uma guerra total a partir do bombardeio de Homs, em fevereiro de 2012.
Desde a primavera (no hemisfério norte) de 2013 e após uma série de derrotas, o regime passou ao contra-ataque com o apoio decisivo de combatentes recrutados entre as fileiras do movimento xiita libanês Hezbollah, assim como de xiitas iraquianos convocados pelos Guardiões da Revolução, as tropas de elite iranianas. As forças pró-governamentais saíram fortalecidas após o cancelamento das ofensivas ocidentais em resposta ao ataque químico realizado no dia 21 de agosto de 2013 nos arredores de Damasco, que a oposição síria e os países ocidentais atribuem a Assad.
[SAIBAMAIS]Um acordo entre Moscou e Washington cancelou estes ataques ocidentais em troca de um compromisso do regime em destruir suas armas químicas, sob supervisão da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAC). Até o momento, a Síria retirou ou destruiu um terço de seu arsenal químico. A estratégia do presidente sírio é controlar a "Síria útil", ou seja, a costa, as grandes cidades e as estradas mais importantes. A oposição controla mais território, mas o regime tem sob seu controle as regiões mais populosas.
As tropas de Assad avançaram em três direções: no sul de Damasco, onde impuseram armistícios a várias localidades rebeldes sitiadas, na região montanhosa de Qalamun, ao norte de Damasco, onde cercam a cidade de Yabrud, próxima à fronteira com o Líbano, e ao norte da cidade de Aleppo, onde tentam encurralar os rebeldes.
Rebelião dividida
Ao mesmo tempo, a rebelião se rompe. Os rebeldes, em sua maioria islamitas, e o braço oficial da Al-Qaeda na Síria, a Frente Al-Nosra, enfrentam desde janeiro de 2014 os jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e Levante (EIIL), a quem acusam de brutalidade e de ter uma vontade de hegemonia. Segundo os especialistas, os rebeldes contariam com entre 100 mil e 150 mil combatentes, cerca de 15 mil estrangeiros divididos em dois mil grupos. O grupo mais importante seria a Frente Islâmica, uma coalizão de combatentes islamitas.
As forças do regime contavam antes da crise com 300 mil soldados, a metade deles recrutas, aos quais se somam dezenas de milhares de outros combatentes. Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), cerca de 50 mil morreram em três anos. "Nenhum grupo está ganhando. Assad pode manter a maioria do território sob seu controle e aplicar a política de terra queimada nas regiões que não controla, mas não poderá nunca restabelecer a integridade do país sob seu regime", explica o diretor do instituto alemão de política externa e de segurança, Volker Perthes.
Para Perthes, a desintegração do país "não é uma possibilidade, é uma realidade, e se a guerra terminasse amanhã levaria mais de uma década para endireitar o país". O geógrafo especialista em Síria Fabrice Balanche afirma que, caso nenhum dos grupos vença, ocorrerá "uma divisão de fato entre uma região curda a nordeste, uma região rebelde ao norte e uma zona nas mãos do regime no centro".
"De fato, não existe um bom cenário na Síria. Assad se restabelecerá lentamente, mas a que preço", declarou Balanche, para quem "o restabelecimento do regime virá acompanhado de uma repressão que não motivará o retorno de centenas de milhares de sírios". "Ficaria surpreso se a Síria recebesse um afluxo de capitais como o Líbano em 2006. Além disso, não conta com o petróleo do Iraque", indicou o geógrafo. "O país empregará muito tempo antes de restabelecer, já que a reconstrução se somará aos problemas estruturais prévios à crise".