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Gravação acusa Erdogan de corrupção e premier turco denuncia farsa

Áudio foi divulgado na segunda-feira (24) no Youtube

Ancara - O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, se viu nesta terça-feira(25) envolvido em um escândalo de corrupção que afeta seu governo há vários meses, depois da divulgação de uma gravação telefônica que ele denunciou como uma farsa.

A gravação, divulgada na segunda-feira no Youtube e da qual não foi possível confirmar a autenticidade com uma fonte independente, envolve pela primeira vez Erdogan de forma pessoal no escândalo de corrupção. Até agora apenas pessoas próximas ao primeiro-ministro haviam sido afetadas.

Na gravação de áudio, com data de 17 de dezembro, um homem apresentado como o primeiro-ministro turco pede a outro, apresentado como seu filho mais velho, Bilal, que faça desaparecer quase 30 milhões de euros, poucas horas depois de uma operação policial contra dezenas de pessoas ligadas ao governo.

Bilal já foi interrogado como testemunha por juízes que investigam casos de corrupção. Erdogan não demorou a desqualificar a gravação.

"O que se faz é um ataque abjeto contra o primeiro-ministro da República da Turquia. Ninguém pode sair impune depois disto", afirmou em um discurso aos deputados do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP).

"Nunca cederemos", completou, ante os aplausos dos integrantes de seu partido.

Mais cedo, o governo chamou a gravação de "montagem imoral e completamente falsa". Além disso, ameaçou processar os autores da denúncia.

A oposição, que há várias semanas acusa de corrupção o governo islamita moderado, no poder desde 2002, exigiu a renúncia "imediata" do premier.

"O governo deve renunciar de imediato. Perdeu toda a legitimidade", disse Haluk Koç, vice-presidente da principal força da oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP).

"O primeiro-ministro não tem tempo a perder para apresentar sua renúncia", insistiu Koç.

Na mesma linha, o líder do Partido de Ação Nacionalista, Devlet Bahçeli, anunciou que "o final absoluto e certo de Erdogan está muito próximo".

"A justiça tem que abrir de imediato uma investigação", disse.

Coincidência ou não, na mesma segunda-feira dois jornais ligados ao governo islamita acusaram juízes próximos ao rival político de Erdogan, o pregador muçulmano Fetulah Gülen, de terem ordenado escutas ilegais de milhares de pessoas, incluindo o primeiro-ministro.

Erdogan acusa Gülen de manipular as investigações anticorrupção em curso no país para que afetem o governo antes das eleições municipais de março e da eleição presidencial de agosto.

Para recuperar o controle da situação, o AKP de Erdogan, que tem maioria no Parlamento, determinou amplas punições na polícia e na justiça, além de ter aprovado leis que endurecem o controle sobre a internet e a influência do governo sobre a justiça.