Roma - O novo chefe de governo italiano, Matteo Renzi, que chegou ao poder com a promessa de adotar importantes reformas a cada mês, apresentou-se ao Senado nesta segunda-feira com um discurso fora do habitual.
"Chegou a hora sermos valentes, de adotarmos mudanças radicais e rápidas", declarou o líder do Partido Democrático, em seu primeiro discurso aos senadores que devem votar uma moção de confiança.
Trata-se do primeiro obstáculo a ser encarado pelo jovem político florentino, que se comprometeu a cumprir de forma urgente uma série de reformas, entre elas a de reformar a Constituição, o sistema trabalhista e administrativo e o fico.
[SAIBAMAIS]"Não há desculpas", disse Renzi aos senadores, afirmando que vai dar prioridade à educação, à escola, "porque é aí que nasce a credibilidade" de um país.
O ex-prefeito de Florença anunciou como primeira medida concreta saldar as dívidas da administração pública com as empresas privadas - um gasto de 70 bilhões de euros -, com o objetivo de reativar a produção de muitas pequenas e médias empresas.
Também prometeu diminuir em 10% o custo de trabalho para os empregadores. De forma franca, desenvolta e pouco convencional, Renzi lembrou que, devido a sua idade, 39 anos, não poderia ser eleito senador, já que a idade mínima para é 40 anos. Ele também falou da possível abolição do Senado, ponto central do seu programa de governo.
"Espero ser o último primeiro-ministro a ter que pedir um voto de confiança do Senado", comentou ironicamente. "Se fracassarmos, a responsabilidade será toda minha"
Como seu antecessor, Enrico Letta, para governar Renzi precisa do apoio dos 30 senadores da Nova Centro-Direita, de Angelino Alfano, que foi confirmado como ministro do Interior.
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Alfano, ex-braço-direito de Silvio Berlusconi, que deixou o magnata para aliar-se à centro-esquerda, perdeu a vice-presidência do governo, mas a sua confirmação como ministro deve garantir a Renzi os 161 votos necessários no Senado.
Aos parlamentares, Renzi defendeu a União Europeia, a tradição italiana de defender os princípios básicos da integração europeia e seu papel no velho continente.
"O futuro da Itália não é o de chorar de manhã até a noite, ou de ser o retardatário da Europa", a "Itália quer ser um lugar de oportunidades", disse o presidente do Conselho em seu discurso de uma hora, em grande parte improvisado.
Interrompido várias vezes pelos senadores do Movimento 5 Estrelas, o jovem político não se mostrou incomodado e respondeu com ironia e até de forma divertida.
"Não é Angela Merkel (chanceler alemã) nem Mario Draghi (presidente do Banco Central Europeu) que nos pedem para termos as contas públicas em ordem. Isso nós devemos a nossos filhos, temos que fazer para aqueles que virão depois de nós", declarou sobre a imensa dívida pública da Itália (cerca de 130% do PIB).
"Se fracassarmos, a responsabilidade será toda minha", reconheceu Renzi, que não apresentou um programa detalhado de medidas. Ele contou histórias de amigos e conhecidos para ilustrar os problemas de uma Itália "oxidada", esgotada pelo desemprego.
Após o discurso, os senadores que tiverem interesse podem falar e, em seguida, será realizado o voto de confiança, por volta das 21H00 GMT (18h00o de Brasília).
O primeiro gabinete paritário da história da Itália, formado por oito homens e oito mulheres, com uma média de idade mais baixa em meio século (47,8 anos), prometeu no sábado despertar "as esperanças" de um país absorvido por uma grave crise econômica e social.
Na terça-feira, Renzi se submeterá ao voto da Câmara de Deputados, onde conta com uma ampla maioria.