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Ucrânia pós-Yanukovytch é um sério problema para o governo russo

Para influenciar a política ucraniana, o Kremlin dispõe de vários artifícios graças aos fortes laços as economias dos dois países

Moscou - A chegada ao poder em Kiev de líderes ávidos de vincular o futuro à Europa e não mais à Rússia deverá causar problemas para Vladimir Putin, que sonha manter a Ucrânia na órbita de seu país. Para influenciar a política da Ucrânia, a Rússia dispõe de vários artifícios graças aos fortes laços as economias dos dois países.


A primeira reação oficial russa foi do ministro da Economia Alexei Oulioukaev, que ameaçou aumentar as tarifas alfandegárias sobre os produtos vindos da Ucrânia, caso Kiev opte por uma aproximação da União Europeia. "Dizemos à Ucrânia: claro, você tem o direito de escolher o seu caminho (...) Mas, neste caso, nós seremos obrigados a aumentar as tarifas sobre as importações", declarou Oulioukaev ao jornal alemão Handelsblatt, sobre o acordo de associação de Kiev com a UE.

[SAIBAMAIS]A primeira consequência da mudança de poder em Kiev será claramente a assinatura de um acordo com a União Europeia e o abandono do acordo de aproximação com Moscou, assinado pelo presidente deposto Viktor Yanukovytch.

Integração europeia, uma prioridade

O presidente ucraniano interino, Olexander Turtchynov, declarou que a integração europeia é "uma prioridade" para a Ucrânia e pediu para que Moscou respeite a "opção europeia" do país. "Estamos prontos para o diálogo com a Rússia, para desenvolver nossas relações em pé de igualdade", acrescentou.



Foi precisamente a desistência no último momento, em novembro passado, da assinatura do acordo com a UE em favor de uma aproximação com a Rússia, que provocou a crise que, finalmente, determinou a queda do presidente Yanukovytch. Nesta segunda-feira, o ministro interino das Finanças, Yuri Kolobov, anunciou que pediu "aos parceiros ocidentais para organizar uma grande conferência internacional de doadores", enquanto a Ucrânia precisa de uma ajuda de US$ 35 bilhões para 2014/2015.

Kolobov não mencionou a ajuda prometida por Moscou a Viktor Yakunovytch - um empréstimo de 15 bilhões de dólares e uma diminuição acentuada nos preços do gás - o que dá a entender que este acordo não é mais válido ou, pelo menos, questionado neste momento. Na esfera militar, a Rússia também tem com o que se preocupar: com o possível desejo da Ucrânia de integrar a Otan, e com um questionamento do status da base de Sevastopol (Crimeia), onde se encontra a frota russa no Mar Negro, que dá acesso direto à Rússia para o Mediterrâneo.


"É possível que a Rússia continue a sua assistência econômica para Kiev, mas isso vai depender do cumprimento do acordo sobre a frota do Mar Negro, a ausência de negociações com a Otan e do respeito aos direitos da população russa na Ucrânia", considera o analista Fyodor Lukyanov, da revista A Rússia na política mundial.

Finalmente, a atual situação da Ucrânia, "país irmão da Rússia", de acordo com uma fórmula usada por Vladimir Putin, coloca um ponto final ao sonho do presidente russo de estabelecer uma união econômica com os países da ex-URSS capaz de competir não só com a União Europeia, mas também com os Estados Unidos e a China. Este projeto - um dos principais objetivos do governo de 14 anos do presidente Putin, de acordo com muitos observadores - não teria sentido, na ausência da Ucrânia, um país de 46 milhões de habitantes, com um enorme potencial agrícola e industrial.