Jornal Correio Braziliense

Mundo

Justiça britânica considera legal detenção do brasileiro David Miranda

Miranda é companheiro de Glenn Greenwald que divulgou documentos classificados em posse de Snowden

Londres - A Alta Corte britânica declarou nesta quarta-feira (19/2) que a polícia agiu corretamente ao deter sob as leis antiterroristas o brasileiro David Miranda, companheiro de um jornalista relacionado aos vazamentos de Edward Snowden. O jornalista Glenn Greenwald trabalhava na época no jornal britânico The Guardian e foi o responsável pela divulgação de documentos classificados em posse de Snowden, um analista da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana que está refugiado na Rússia.

Os documentos causaram grande controvérsia porque revelavam a espionagem em massa de cidadãos não suspeitos e de líderes aliados por parte dos serviços secretos americanos. Miranda, um cidadão brasileiro, transportava parte da informação codificada de Berlim ao Rio de Janeiro quando foi detido no aeroporto londrino de Heathrow no dia 18 de agosto de 2013.

A polícia fronteiriça apreendeu seu computador, telefone, cartões de memória e DVDs e, a pedido do serviço de inteligência MI5, foi interrogado pelo tempo máximo permitido pela lei, nove horas. Apoiado por várias organizações de direitos civis, Miranda levou sua detenção à Alta Corte, alegando que foi ilegal e violou seus direitos humanos.



Três juízes rejeitaram nesta quarta-feira sua apelação, uma decisão saudada pela ministra do Interior, Theresa May. "Esta resolução apoia sem fissuras as medidas tomadas pela polícia neste caso para proteger a segurança nacional", disse May. "Se a polícia acredita que um indivíduo está em posse de informação importante roubada que pode ser útil ao terrorismo, tem que agir. Estamos satisfeitos pelo fato de a Corte estar de acordo", acrescentou.

Já Miranda declarou que a sentença confirma as restrições à liberdade de imprensa na Grã-Bretanha e anunciou que não recorrerá. "É claro que não estou feliz por um tribunal ter dito formalmente que eu era legitimamente suspeito de terrorismo, mas os dias do império britânico acabaram há tempos, e esta sentença não terá efeitos fora do país", declarou em um comunicado publicado na The Intercept, a nova revista on-line de Greenwald.

"Estou convencido de que com esta sentença prejudicaram mais seu país do que a mim, porque ela coloca em evidência o que o mundo já sabe: o Reino Unido despreza a liberdade de imprensa mais elementar", acrescentou. A lei antiterorrista que serviu para deter David Miranda está sendo atualmente revisada no Parlamento, após as críticas de políticos e meios de comunicação pela prisão do brasileiro.