Um repórter do jornal Vesti morreu ao ser atingido por tiros perto do cenário dos confrontos, anunciou a publicação. A violência atingiu outras regiões da ex-república soviética. Em Leopolis (oeste), os manifestantes assumiram o controle de prédios públicos e de depósitos de armas. Os confrontos começaram na terça-feira nas imediações do Parlamento. Durante a noite, as forças de segurança iniciaram uma ofensiva com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral contra Maidan, a Praça da Independência de Kiev, epicentro dos protestos. Os manifestantes responderam com coquetéis molotov.
Yanukovytch decretou a quinta-feira como dia nacional de luto. As bandeiras serão hasteadas a meio-mastro nos prédios públicos e serão cancelados os eventos e competições esportivas, segundo o decreto publicado pela presidência. Os serviços especiais ucranianos anunciaram a abertura de uma investigação por tentativa de tomada ilegal do poder.
A investigação, sobre "alguns políticos", que não são identificados, será centrada em "ações políticas ilegais para a tomada de poder", afirma um comunicado dos serviços secretos (SBU). "O presidente propôs que nos rendamos. Ficaremos aqui com os manifestantes", declarou um dos líderes da oposição, Arseni Yatseniuk, à emissora de televisão Kanal 5. "O governo desencadeou uma guerra contra o próprio povo", declarou outro líder do movimento, o ex-campeão de boxe Vitali Klitschko.
O governo impôs na terça-feira o estado de emergência de fato: o metrô de Kiev foi fechado e as autoridades anunciaram um "limite" do tráfego em direção à capital a partir da meia-noite, para evitar "uma escalada da violência". A agitação na Ucrânia teve início em novembro, quando o governo decidiu repentinamente suspender as negociações de associação com a UE e estreitar as relações econômicas com a Rússia.
UE ameaça com sanções
A União Europeia (UE) estudará sanções contra os responsáveis pela repressão na Ucrânia, anunciou a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton. Ela convocou os ministros das Relações Exteriores da UE para uma reunião extraordinária dedicada à crise ucraniana, na quinta-feira. Nesta quarta-feira, ela terá uma reunião com os embaixadores da UE responsáveis pelas questões de segurança. Eles estudarão todas as opções, incluindo sanções contra os responsáveis pela repressão e por violações dos direitos humanos, destaca um comunicado de Ashton.
O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, disse que o governo ucraniano terá que responder pela violência. "A violência contra manifestantes pacíficos é inaceitável e o governo ucraniano terá que prestar contas", escreveu Hague, que está no Brasil, no Twitter. O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, afirmou que o país terá deliberações com a Alemanha e que provavelmente serão decididas sanções. "Não permaneceremos indiferentes", disse.
A chanceler alemã Angela Merkel está em Paris para um conselho de ministros conjunto. O ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, afirmou que a "Ucrânia está pagando muito caro pelas táticas dilatórias do presidente (Viktor) Yanukovytch". "Sua recusa a realizar conversações sérias sobre uma solução pacífica do conflito e uma reforma constitucional é um grave erro", disse.
O ministro das Relações Exteriores da Suécia, Carl Bildt, afirmou que o presidente ucraniano Viktor Yanukovytch é responsável pelas mortes. "Devemos ser claros: a responsabilidade final das mortes e da violência recai no presidente Yanukovytch. Tem sangue nas mãos", escreveu no Twitter. A Rússia, no entanto, apoiou Yanukovytch e atribuiu a violência à oposição. "No fundo se trata de uma tentativa de golpe de Estado", afirma o ministério russo das Relações Exteriores em um comunicado. "A parte russa exige que os líderes (da oposição) façam cessar o derramamento de sangue em seu país e retomem sem atraso o diálogo com o governo legítimo, sem ameaças nem ultimato", completa a nota.
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, condenou a violência na Ucrânia e pediu uma "investigação urgente e independente". "Condeno com veemência as mortes e peço ao governo e aos manifestantes que atuem para desativar a tensão e que adotem ações rapidamente para encontrar uma solução pacífica à crise. Também peço uma investigação urgente e independente para estabelecer os fatos e responsabilidades", afirma Pillay em um comunicado.
Na noite de terça-feira em Washington, o vice-presidente dos Estados Unidos Joe Biden se declarou "consternado" e pediu a Yanukovytch a retirada das forças de segurança das ruas, além da retomada urgente do diálogo com a oposição. O primeiro-ministro polonês Donald Tusk considerou que a Ucrânia está ameaçada por uma "guerra civil", com consequências para a segurança e a estabilidade de toda a região.