Caracas - A oposição venezuelana desafia nesta terça-feira (18/2) o governo com uma passeata sem autorização pelo centro de Caracas, na qual o dirigente radical foragido da justiça prometeu se entregar às autoridades. Unidades antidistúrbios da Guarda Nacional Bolivariana, apoiadas por veículos blindados e grupos da Polícia Nacional começaram a se posicionar no início da manhã para fazer frente à manifestação.
O governo já alertou que o protesto não tem autorização para ser realizado e anunciou, além disso, dois atos pró-chavismo para o mesmo setor em que ocorrerão as manifestações oposicionistas. Além de um show pela paz na Praça Venezuela, uma passeata de funcionários petroleiros acontecerá no Palácio de Miraflores, que contará com a participação do presidente Nicolás Maduro.
[SAIBAMAIS]Maduro afirma que as manifestações dos últimos dias são um "golpe de Estado" promovido pelos Estados Unidos. Na véspera, os Estados Unidos afirmaram que as acusações são "falsas e sem fundamento". "Apoiamos os direitos humanos e as liberdades fundamentais - incluindo a liberdade de expressão e o direito de reunião -- na Venezuela e em todos os países do mundo. Mas, como temos dito há muito tempo, corresponde ao povo venezuelano decidir o futuro político da Venezuela", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki.
Maduro anunciou na noite de domingo a expulsão de três diplomatas americanos acusados de se reunir com os líderes das manifestações. Na segunda-feira, o chanceler venezuelano, Elías Jaua, denunciou a ingerência do governo dos Estados Unidos nos recentes protestos estudantis e revelou os nomes dos três funcionários da embaixada na Venezuela, dando 48 horas para que deixem o país. Os diplomatas expulsos são Breean Marie McCusker, segunda secretária exercendo funções de vice-cônsul na Venezuela; Jeffrey Gordon Elsen, segundo secretário da embaixada que também exerce funções de vice-cônsul; e Kristopher Lee Clark, segundo secretário.
Nas últimas duas semanas, estudantes venezuelanos saíram às ruas de Caracas e de outras cidades do país para protestar contra a crescente crise econômica e a violência. Eles exigiam também a liberação de jovens detidos em outros protestos. Na quarta-feira passada, depois de uma passeata reunindo milhares de estudantes, acompanhada por líderes da oposição, incidentes foram registrados entre manifestantes, policiais e grupos seguidores do governo. Três pessoas morreram e 66 ficaram feridas.
O governo acusou "grupos da ultradireita infiltrados" com o objetivo de provocar "um golpe de Estado", e responsabilizou o líder opositor Leopoldo López pelas mortes. López, um jovem economista formado em Harvard e com uma substancial carreira política, está escondido desde que uma ordem de prisão foi emitida na semana passada contra ele, mas no domingo divulgou um vídeo no qual prometeu entregar-se às autoridades durante a passeata de hoje. A situação na Venezuela preocupa os países vizinhos.
A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) rejeitou os atos de violência nos protestos estudantis que abalam a Venezuela e convocou o diálogo entre governo e forças da oposição. O bloco sul-americano manifestou sua "rejeição enérgica" aos distúrbios que terminaram com três mortos e dezenas de feridos na semana passada, além de se solidarizar com "os familiares das vítimas", o povo e o governo da Venezuela.
Ao mesmo tempo, fez um "apelo à paz e à tranquilidade nessa nação", reafirmando seu "compromisso com a preservação da institucionalidade e dos princípios democráticos". Em sua mensagem, a Unasul reiterou sua "defesa da ordem democrática, do Estado de Direito e de suas instituições" e pediu a "todas as forças políticas e sociais do país que privilegiem o diálogo e paz para a solução das diferenças, dentro do ordenamento jurídico constitucional".