Genebra - O cessar-fogo humanitário que permitiu a retirada de mais de mil civis da cidade sitiada de Homs, no centro da Síria, foi prorrogado por três dias, no momento em que as discussões para uma solução política ao conflito foram retomadas em Genebra.
A trégua estabelecida durante a primeira rodada de negociações sobre o conflito sírio em Genebra deveria terminar domingo à noite.
Nesta segunda-feira, mais 460 civis foram retirados pela ONU dos bairros rebeldes de Homs, elevando para 1,2 mil o número de pessoas resgatadas desde sexta-feira, segundo o governador da cidade, Talal al-Barazi.
A chefe das operações humanitárias da ONU, Valerie Amos, que confirmou a prorrogação da trégua, expressou em um comunicado sua "satisfação com a notícia de que as partes em conflito aceitaram prorrogar por mais três dias a pausa humanitária na cidade velha de Homs".
[SAIBAMAIS]Amos considerou "inaceitável" que trabalhadores humanitários da ONU e do Crescente Vermelho sírio "sejam alvos" de disparos em Homs, e disse que espera que a operação de resgate dos civis "não seja um evento isolado".
Ela desejou que os negociadores das duas partes reunidos em Genebra "cheguem a um acordo sobre o fornecimento a longo prazo de ajuda aos 250.000 civis em comunidades sitiadas na Síria".
Neste último final de semana, mais de 600 civis foram retirados dos bairros sitiados de Homs com a ajuda da ONU, apesar de os comboios humanitários terem sido alvejados no sábado. Equipes da ONU e do Crescente Vermelho sírio levaram adiante esta primeira operação humanitária em 20 meses graças ao cessar-fogo em vigor desde sexta-feira.
Em Genebra, o mediador da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Lakhdar Brahimi, recebe separadamente os representantes da oposição e do governo com o objetivo de fazê-los dentar à mesma mesa.
Ele já havia se reunido domingo à noite com a delegação governamental, liderada pelo ministro sírio das Relações Exteriores, Walid Mouallem.
A oposição apresentou nesta segunda-feira um relatório sobre "a violência do regime de Assad", segundo uma fonte da oposição. O texto afirma que desde o início das negociações em Genebra, em janeiro, 1.805 sírios foram mortos pelo uso de mais de 130 barris de explosivos nas cidades de Aleppo e Daraya.
Ao final de uma difícil primeira rodada de negociações, Brahimi admitiu que os resultados eram modestos, e que a principal conquista tinha sido reunir as duas partes em conflito para discussões. O mediador prometeu um diálogo mais estruturado nesta segunda rodada, que deve se estender até sexta-feira.
A única questão concreta do diálogo é a tentativa da ONU de obter uma "medida humanitária de confiança", em um acordo entre a oposição e o governo para ajudar a população da cidade velha de Homs, sitiada desde 2012.
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Já a França, em associação com outros países, apresentará um projeto de resolução no Conselho de Segurança da ONU para exigir um acesso humanitário à população civil nas cidades cercadas da Síria, segundo o ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius.
"É absolutamente escandaloso que se discuta há tanto tempo e que a população continue sofrendo de fome todos os dias. Portanto, em associação com outros países, vamos apresentar uma resolução neste sentido", afirmou Fabius à emissora de rádio RTL.
Segundo as informações divulgadas no domingo pelo Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), mais de 300 pessoas morreram nas últimas 24 horas em meio aos combates que prosseguem sem cessar no país. O conflito na Síria já deixou mais de 136.000 mortos em quase três anos, segundo uma ONG.
Terceiro carregamento de agentes químicos deixa a Síria
Enquanto isso, uma terceira carga de agentes químicos foi retirada nesta segunda-feira da Síria para ser destruída, como parte de um acordo com o regime sírio, segundo a missão conjunta ONU-Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq).
"Um terceiro carregamento de armas químicas foi retirado hoje da Síria. Ele foi embarcado em um cargueiro norueguês", anunciou a missão em um comunicado.
O cargueiro foi escoltado por navios de China, Dinamarca, Noruega e Rússia.
Além dessa transferência, "alguns agentes químicos foram destruídos dentro do território sírio", indicou a missão.
O comunicado elogia o "progresso concluído" e "encoraja a Síria a acelerar o transporte de produtos químicos em grandes quantidades e de forma regular e sistemática" para completar a destruição do arsenal de armas químicas sírio.
Em 6 de fevereiro, o Conselho de Segurança das Nações Unidas emitiu uma advertência ao regime sírio, pedindo que "cumpra suas obrigações" e acelere o transporte de armas químicas para fora da Síria.
O regime do presidente Bashar al-Assad deve eliminar todas as suas armas químicas até 30 de junho de 2014, com base em um acordo alcançado em setembro entre os Estados Unidos e a Rússia para evitar uma ofensiva militar americana, em resposta a um ataque químico devastador.