Damasco - Centenas de civis sírios foram retirados neste domingo
dos bairros sitiados da cidade de Homs, apesar da violência que prejudicou a primeira operação
humanitária em 20 meses nesta região devastada pela guerra.
Este esforço humanitário
acontece na véspera da segunda rodada de negociações entre o regime e os rebeldes sírios sob a
égide da ONU em Genebra, dez dias após uma primeira tentativa que não resultou em medidas
concretas para acabar com o conflito, que já deixou mais de 136.000 mortos em quase três anos,
segundo uma ONG.
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[SAIBAMAIS]Após a retirada na sexta-feira de um primeiro grupo de 83 civis, em
cumprimento ao acordo concluído entre rebeldes e regime por intermédio da ONU, 420 civis, todos
"mulheres, crianças e idosos", deixaram os bairros da cidade velha de Homs
(centro).
Segundo o governador da província de Homs, Talal Barazi, a operação foi
dificultada por um morteiro que caiu sobre os bairros sitiados pelo exército desde junho de
2012, e que matou "cinco homens", segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos
(OSDH).
Além disso, o Crescente Vermelho sírio anunciou a distribuição "de 250
pacotes de alimentos, 190 kits de higiene e remédios para doenças crônicas", acrescentando que
todos os seus funcionários e os da ONU conseguiram deixar Homs sem ferimentos.
A
organização não apontou nenhuma das partes em conflito como responsável pelo ataque ao comboio
humanitário.
A ajuda foi entregue em áreas de Homs controladas pelos rebeldes e
sitiadas pelas tropas do regime sírio há mais de 600 dias.
Desde sábado, as duas
partes em conflito se acusam mutuamente de violar o cessar-fogo de três dias e de atacar os
comboios de ajuda humanitária.
As imagens da televisão estatal síria mostravam o
estado de extremo cansaço dos civis resgatados neste domingo.
Muitas mulheres,
crianças e idosos deixaram os bairros sitiados de ônibus, visivelmente esgotados, segundo as
imagens exibidas pelo canal Al-Mayadeen, baseada em Beirute.
Eles foram auxiliados
por funcionários da ONU, com capacetes e coletes azuis, e do Crescente Vermelho sírio, sob os
olhares dos militares sírios.
Nas imagens também é possível ver crianças pálidas,
algumas com os olhos fechados, carregadas pela mãe ou pai.
"Faltava tudo, todas as
crianças estão doentes, não tínhamos nem mesmo o que beber", afirmou uma mulher, mostrando
sinais de extrema fadiga, cercada por seus três filhos.
Neste contexto, a ONU
denunciou a violação da trégua, durante a qual deveriam acontecer as operações de evacuação e
fornecimento de ajuda urgente para aqueles que decidiram ficar na região.
"O acordo
entre o regime e os rebeldes (...) foi violado. O cessar-fogo foi violado de maneira odiosa",
denunciou o coordenador humanitário da ONU na Síria, Yacoub El Hillo, em declarações lidas à
imprensa.
A trégua iniciada na sexta-feira deveria valer até este domingo à
noite.
Mas no sábado, tiros contra um comboio de ajuda do Crescente Vermelho sírio
fizeram cinco mortos e cerca de 20 feridos entre os habitantes.
A chefe das operações
humanitárias da ONU, Valerie Amos, expressou em um comunicado sua "decepção" após a violação da
trégua, insistindo que as Nações Unidas irão continuar a "se esforçar o máximo possível para
levar ajuda para aqueles que necessitam".
"Esperamos que mais ajuda possa entrar na
cidade e que os civis possam ser retirados em segurança, mas não sei se isso vai acontecer.
Tememos novos bombardeios", declarou à AFP o ativista Abu Bilal, acrescentando que os ataques de
ontem "deixaram 20 feridos, e não temos medicamentos suficientes para
tratá-los".
Enquanto as operações continuam, bem como os confrontos no campo de
batalha, o regime e a oposição se preparam para se reunir novamente em Genebra sob os auspícios
do mediador internacional Lakhdar Brahimi, em uma nova tentativa de aproximar duas posições
irreconciliáveis.
O regime rejeita qualquer discussão sobre a saída do presidente
Bashar al-Assad e insiste em tratar do "terrorismo", referindo-se à rebelião, enquanto, para a
oposição, a questão da transição política sem Assad é primordial.
A delegação do
governo sírio, conduzida pelo ministro das Relações Exteriores, Walid Muallem, já chegou em
Genebra para participar da segunda rodada de negociações.