Kiev - A oposição ucraniana mobilizou neste domingo (9/2) em Kiev mais de 70.000 manifestantes contra o presidente Viktor Yanukovytch, que enfrenta agora um delicado dilema com a formação de um novo governo, muito esperado pela Rússia e pelo Ocidente. "Não temos a intenção de nos render. Iremos mais longe", proclamou diante da Praça de Independência o militante Dimytro Bulatov, cuja foto com o rosto desfigurado pelas torturas rodou o mundo.
O opositor se dirigiu aos manifestantes por telefone a partir da Lituânia, onde foi hospitalizado. Um dos líderes da oposição, o ex-boxeador Vitali Klitschho, desafiou o presidente a aparecer na praça "para ouvir o que o povo diz sobre ele". Klitschko convocou os ucranianos a realizar uma greve geral de uma hora na próxima quinta-feira às 11h (7h de Brasília) e a sair às ruas com a bandeira nacional. Exaltado, Klitscho acrescentou diante da multidão que o governo de Yanukovytch "não poderá nos destruir. Seguiremos lutando".
[SAIBAMAIS]O ex-boxeador convidou os manifestantes a se inscrever nas unidades de autodefesa criadas em diferentes pontos do país e seguir o lema "sou ucraniano e não tenho medo". "As pessoas têm que seguir nas ruas até o fim, do contrário teremos represálias. E a oposição tem que estar mais decidida, não se limitar aos discursos das tribunas. Precisamos de uma eleição presidencial antecipada e de uma nova Constituição", declarou à AFP Anna Rebenok, uma jovem secretária que foi protestar.
O influente empresário e deputado independente Petro Poroshenko afirmou que 392 manifestantes detidos nos confrontos recentes com a polícia foram libertados e que 49 seguiam presos. A libertação destes militantes é uma das exigências dos opositores.
À espera de um novo governo
Rússia, de um lado, e União Europeia e Estados Unidos, que mantêm uma disputa de influências na orientação estratégica da Ucrânia, esperam a nomeação de um novo primeiro-ministro após a renúncia de Mykola Azarov e seu gabinete no dia 28 de janeiro. A decisão se anuncia difícil para Yanukovytch, muito pressionado pela Rússia, mas também pela UE e pelos Estados Unidos, que ofereceram ajuda econômica.
Moscou ofereceu à Ucrânia uma ajuda financeira de 15 bilhões de dólares e uma redução do preço de seu gás em um terço, depois que Yanukovytch rejeitou em novembro assinar um acordo de associação com a União Europeia para se aproximar da Rússia. Yanukovytch se reuniu com seu colega russo, Vladimir Putin, em um esperadíssimo encontro na noite de sexta-feira em Sochi, onde são realizados os Jogos Olímpicos de Inverno. No entanto, até o momento nenhum aspecto da conversa foi divulgado.
A Rússia, que já entregou parte de sua ajuda econômica, advertiu que a concessão do restante dependerá da escolha do novo governo ucraniano. Parece pouco provável que Yanukovytch possa encontrar um candidato aceitável ao mesmo tempo para a Rússia e para os ocidentais, que exigem um governo técnico de unidade nacional, onde a oposição pró-europeia tenha um peso real.
A oposição exige, em primeiro lugar, uma reforma constitucional para voltar à Carta Magna de 2004, que reduziu os poderes presidenciais em favor do Parlamento e do Governo. O presidente diz que está disposto a dialogar sobre uma reforma constitucional, mas propõe a elaboração de um novo texto que pode levar vários meses.
A oposição rejeita esta última opção, por considerar que se trata de uma estratégia para ganhar tempo.