Teerã - As discussões entre a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e o Irã foram retomadas neste sábado (8/2) em Teerã em torno da delicada questão de um possível aspecto militar do programa nuclear e de medidas concretas para melhorar a transparência. O encontro, que pode durar o dia todo, está previsto em um roteiro elaborado em novembro entre a AIEA e o Irã, que enumera seis etapas a serem cumpridas por Teerã até 11 de fevereiro, incluindo a visita de especialistas da Agência à usina de produção de água pesada de Arak.
Em um segundo momento, as duas partes devem abordar questões "mais difíceis", alertou o diretor da AIEA, Yuyika Amano, sem indicar, contudo, se os seis requisitos foram todos cumpridos. A questão sobre a futura cooperação será decidida de acordo com a avaliação realizada pela AIEA sobre as medidas tomadas durante os primeiros três meses, indicou na quinta-feira o porta-voz da Organização Iraniana de Energia Atômica (OIEA), Behrouz Kamalvandi, citado pela agência de notícias ISNA.
Neste sábado, ele disse esperar "que as dúvidas do órgão sejam esclarecidas". A equipe de cinco pessoas da AIEA, liderada pelo inspetor-chefe Tero Varjoranta, se reuniu pela manhã e à tarde com as autoridades nucleares iranianas, liderada pelo embaixador na AIEA, Reza Najafi.
Leia mais A primeira parte das discussões foi "satisfatória", indicou Kamalvandi, sem querer dar mais detalhes, de acordo com o site da radiodifusão estatal. A equipe da agência da ONU preferiu não se manifestar. Segundo informações da imprensa, as conversações podem ser estendidas em caso de avanços significativos.
Como parte do roteiro estabelecido em novembro, os especialistas da AIEA visitaram no dia 8 de dezembro a usina de Arak, um dos pontos de atrito nas negociações entre o Irã e as grandes potências internacionais. A usina pode, teoricamente, fornecer ao Irã o plutônio, uma alternativa ao enriquecimento de urânio, necessário para a fabricação de uma bomba atômica.
Em resposta a estas preocupações, o chefe da OIEA, Ali Akbar Salehi, afirmou nesta semana que o Irã estava pronto para "realizar algumas mudanças nos planos (do reator) para produzir menos plutônio", embora tenha reiterado que Arak era um reator de pesquisa.
Hora das questões sensíveis
As atividades nucleares do Irã têm estado no centro das preocupações internacionais ao longo da última década. Os países ocidentais e Israel temem que a República Islâmica esconda interesses militares, apesar da negativa de Teerã. A AIEA tenta determinar se o Irã procurou ou não desenvolver armas atômicas antes de 2003, ou até depois.
Seu diretor, Amano, declarou à AFP em janeiro que era chegado o momento de resolver esta questão altamente sensível. "Começamos com medidas práticas e fáceis de serem implementadas, agora precisamos passar para as coisas mais difíceis", disse. "Nós certamente queremos incluir as questões (relaticionadas) à possível dimensão militar do programa nuclear nas próximas etapas", afirmou.
A duração desta nova etapa "depende muito do Irã. Ela realmente depende de sua cooperação", acrescentou. A AIEA critica há anos o país islâmico pela falta de cooperação que levanta, segundo a agência, dúvidas sobre as intenções de seu programa nuclear.
Neste contexto, lamenta regularmente a impossibilidade dos inspetores de visitar a base militar iraniana de Parchin, suspeita de realizar testes com armas nucleares. Em paralelo com as discussões com a AIEA, o Irã negocia com o grupo 5%2b1 (Estados Unidos, China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha).
Essas negociações resultaram, no final de novembro, em um acordo em Genebra, através do qual Teerã suspendeu o seu enriquecimento de urânio a 20% e congelou as demais atividades nucleares, em troca de um levantamento parcial das sanções ocidentais. A cooperação do Irã aos pedidos da Agência desempenha um papel importante nas negociações recentes, especialmente porque a AIEA é responsável por monitorar as medidas previstas pelo Acordo de Genebra.