[SAIBAMAIS]Mais de 200 policiais protegiam a região, fechada ao tráfego e que estava liberada apenas aos 300 jornalistas de todo o mundo credenciados para um acontecimento histórico: o interrogatório do primeiro membro da família real já acusado pela justiça. Afastados por um cordão policial, um grupo de manifestantes segurava cartazes nos quais era possível ler "Sangue real = justiça irreal" ou "A lei é igual para todos". "Para nós, o juiz Castro é um dos grandes da Espanha. É o único que está fazendo justiça para os espanhóis", dizia Andrés Rodríguez, um motorista de ônibus de 35 anos.
Castro busca determinar se Cristina, sétima na sucessão ao trono da Espanha, cooperou nas supostas atividades criminosas de seu marido, Iñaki Urdangarin, suspeito junto a um ex-sócio de desviar 6,1 milhões de euros (8,3 milhões de dólares) entre 2004 e 2006 mediante uma sociedade sem fins lucrativos chamada Instituto Nóos.
Sentada em uma cadeira de veludo vermelho, em uma sala presidida pelo retrato do chefe de Estado, seu pai, a infanta pretendia demonstrar sua inocência, afirmaram seus advogados, com quem esteve se preparando nos últimos dias em Barcelona, de onde viajou pela manhã para enfrentar a acusação ditada pelo juiz no dia 7 de janeiro.
Um golpe na imagem da Coroa
Após meses de trabalho, Castro fundamentou esta convocação em um documento de 227 páginas que caiu como uma bomba: protegida durante muito tempo, mas agora cercada pelos escândalos, a monarquia espanhola descobriu que não é mais intocável. Aos 76 anos - 38 deles de reinado - Juan Carlos passa a imagem de um rei cansado, muitas vezes apoiado em muletas, após suas várias operações no quadril.
A deterioração de sua imagem começou há dois anos com o "caso Urdangarin" e se agravou após uma cara escapada a Botsuana para caçar elefantes em 2012, que indignou uma Espanha atingida pela crise. A ponto de não ser mais tabu falar de uma eventual abdicação em favor do príncipe Felipe, que, aos 46 anos, encarna a esperança da Coroa.
"O caso Nóos foi um problema enorme para a monarquia desde o início. O que ocorre é que, ao se centrar na figura da infanta, o dano aumenta", explicou Ana Romero, jornalista do El Mundo.