Dezenas de civis que ficaram bloqueados por mais de 600 dias em condições desumanas na cidade de Homs, foram retirados nesta sexta-feira depois de uma trégua entre o Exército e os rebeldes em uma das principais frentes do conflito sírio.
As crianças, os maiores de 55 anos e as mulheres de Homs começaram a deixar nesta sexta-feira esta cidade sitiada há 600 dias pelas tropas do regime sírio. Enquanto isso, o governo confirmou sua participação nas próximas negociações com a oposição em Genebra.
Os civis fazem parte das cerca de 3.000 pessoas bloqueadas desde junho de 2012 nos bairros da cidade antiga mantidos em poder dos rebeldes e cercados pelas tropas do regime de Bashar al-Assad.
De acordo com o coordenador da ONU na Síria, Yaacub El Hillo, citado no final da tarde pela televisão pública síria, mais de 80 mulheres, crianças e idosos foram retirados da cidade velha.
Antes de entrar nos ônibus para um destino não informado, os civis retirados receberam cuidados médicos e alimentos, segundo a imprensa oficial.
O acordo também prevê a chegada de ajuda humanitária para os que quiserem permanecer nos bairros sitiados, dominados pelos rebeldes. A ajuda, que consiste em primeiros socorros e alimentos, começará a ser distribuída no sábado, segundo o governador de Homs, Talal Barazi.
Essa operação de retirada, a primeira do tipo desde junho de 2012, foi possível graças a um acordo envolvendo os dois lados em conflito em negociações mediadas pela ONU. Segundo os militantes contrários ao regime, esse acordo prevê um cessar-fogo de quatro dias.
Em razão do cerco, a situação humanitária é desesperadora nos bairros rebeldes, onde os moradores sofrem com a escassez de produtos básicos e são bombardeados quase que diariamente.
;É o fim do pesadelo?;
Funcionários do Programa Alimentar Mundial (PAM) e um veículo do Alto Commissariado para os Refugiados da ONU (Acnur) estavam no local.
"As pessoas que partem têm sentimentos divididos. Com certeza, elas estão felizes, porque depois de mais de 600 dias de cerco, o pesadelo acabou", afirmo à AFP via internet Yazan, um militante contrário ao regime da cidade velha.
Mas, ao mesmo tempo, "elas têm medo do futuro, têm medo que o regime as detenha. Ninguém confia no regime", afirmou.
A comunidade internacional denunciou em várias ocasiões a situação humanitária desesperadora dos treze bairros rebeldes da cidade antiga de Homs.
Debate centrado no terrorismo
O acordo é um primeiro gesto humanitário do regime desde a primeira rodada de negociações em Genebra entre o governo e a oposição sob a supervisão das Nações Unidas, no fim de janeiro.
Durante essas negociações, o mediador internacional Lakhdar Brahimi anunciou ter obtido do regime a promessa de deixar os civis sitiados saírem.
O regime confirmou sua participação na segunda rodada, prevista para a próxima segunda-feira.
As negociações são realizadas sob pressão da Rússia, aliada do regime sírio, e dos Estados Unidos, que apoiam a oposição, com a esperança de chegar a uma solução pacífica a um conflito que em quase três anos deixou mais de 136.000 mortos.
"Foi decidido que a delegação da República Síria participará da segunda rodada de negociações de Genebra", declarou o vice-ministro das Relações Exteriores, Faisal Muqdad, um dos integrantes da delegação do regime na primeira rodada.
[SAIBAMAIS]O regime de Damasco, que classifica os rebeldes de terroristas, quer centrar o debate no terrorismo. A oposição, por sua vez, quer focá-las em uma transição política que afastaria Assad.
A oposição já havia confirmado anteriormente sua presença na próxima rodada.
Os rebeldes lançaram na quinta-feira um ataque contra a prisão central de Aleppo (norte), controlando uma grande parte do estabelecimento. As forças governamentais retomaram o controle nesta sexta após intensos combates, indicou uma ONG.
O destino dos prisioneiros era uma incógnita. O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) havia informado que centenas de detidos foram libertados, mas, com a recuperação da prisão pelo regime, não era possível confirmar a fuga dos prisioneiros.
Em Aleppo, o regime mantinha seus ataques com barris de explosivos, que mataram mais de 260 pessoas em cinco dias e continuavam deixando vítimas.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, condenou na quinta-feira estes ataques, que têm "um efeito devastador em zonas habitadas" e são contrários às leis humanitárias internacionais.