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Muchelney: povoado britânico transformado em ilha por causa das cheias

Só no fim de semana passado, 180 casas ficaram submersas nessa região e o Exército está pronto para intervir tendo em vista as novas chuvas aguardadas para esta semana



Pilotada por policiais ou socorristas, a barca segue o caminho de uma pequena estrada. No meio do percurso, aparece o teto de um carro cinza abandonado nas águas pelo proprietário.

Tudo se complicou: ir ao trabalho, levar as crianças à escola - com coletes salva-vidas -, ou ir ao supermercado.

"Nós nos organizamos", disse Catherine Denny, que prefere guardar na memória os momentos de solidariedade entre vizinhos e a festa que fizeram na igreja, na qual cada um levou o que pôde.

"As pessoas dizem que é preciso fazer algo, mas francamente, não sei o que. Aí está o rio e tudo ao redor (da colina) é planície. Se você não aceita, não deve se instalar aqui", sentenciou.

É isso que sugere o governo, que se questiona se é necessário proteger todas estas terras inundáveis e pouco habitadas, onde as pessoas vivem plenamente conscientes de sua vulnerabilidade.

"Temos que tomar decisões difíceis e delicadas sobre o que tentamos proteger e onde", escreveu em um artigo no Daily Telegraph Chris Smith, encarregado da Agência de Meio Ambiente, perguntando se os contribuintes estão dispostos a pagar para construir diques em todos os cantos do país.

"Construir diques custa caro", lembrou Smith. O primeiro-ministro (britânico) David Cameron prometeu quatro milhões de libras para dragar o leito dos rios, mas para a maioria dos especialistas, isto não servirá de nada.

"Ir contra a natureza não leva a nada, além do fracasso. A única solução sensata é partir", afirmou Colin Thorne, professor de geografia física na universidade de Nottingham, citado pelo Daily Telegraph.

Os ambientalistas pensam da mesma forma e sonham em transformar a região em reserva natural de restingas.

Para Robin Bord, farto de ver como seus campos apodrecem em Muchelney, essas ideias são repulsivas. "Nasci aqui, sempre houve inundações, mas não tantas. Por quê? Porque os rios não foram dragados em 20 anos. Ao invés disso, preferimos gastar 20 milhões de libras em um santuário de pássaros. O governo prefere os pássaros às pessoas", lamentou.