[SAIBAMAIS]Na véspera, os negociadores do Talibã paquistanês advertiram que a paz só será possível se o governo de Islamabad adotar a sharia, a lei islâmica, e as forças americanas se retirarem completamente do vizinho Afeganistão. Estas condições parecem dificultar um acordo entre o governo e os islamitas do grupo Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), que lidera uma sangrenta insurgência desde 2007.
As negociações de paz deveriam começar na terça-feira. Mas a delegação do governo recusou-se a se reunir com os negociadores do Talibã, afirmando que a composição desta delegação era confusa e não tinha poder suficiente.
Milhares de mortos desde 2007
Um ataque suicida matou oito pessoas, na terça, num atentado a bomba contra integrantes da minoria xiita, na cidade de Peshawar, noroeste do país.
O porta-voz do Talibã negou que o grupo esteja por trás do ataque, mas um membro do grupo, de Peshawar, informou à AFP que seus subordinados foram os responsáveis pelo ataque, e disse que nenhum cessar-fogo foi anunciado.
Haq afirmou, depois das conversas de quinta, que os dois lados tinham condenado o ataque e concordado que "não haveria ação alguma por parte dos dois lados que pudesse atrapalhar os esforços pela paz".
O grupo matou milhares de pessoas em todo o país desde que o conflito começou em 2007, sendo 110 desde o início do ano.
Mas o movimento, formado por vários grupos, tem diversos conflitos internos, e alguns são contra as negociações.
Saifullah Khan Mehsud, diretor do Centro de Pesquisa FATA, disse que essa divisão torna difícil até mesmo as negociações de um cessar-fogo, que seria apenas o primeiro-passo.
"Eu não sei se os grupos do Talibã estão na mesma página, e quais deles estão sendo representados, então não sei se um cessar-fogo é possível", explicou à AFP.
;Teocracia híbrida;
A estabilidade no Paquistão, um país com armas nucleares, é importante para o Afeganistão, país vizinho ocupado por tropas americanas há mais de uma década.
Washington anunciou que está acompanhando as negociações de perto. Há uma pressão americana para o país adotar medidas contras os integrantes do Talibã que atacam soldados americanos do outro lado da fronteira.
Observadores têm poucas esperanças com a negociação, e dizem que há poucos pontos em comum entre os dois lados.
Um dos negociadores do Talibã, Maulana Abdul Aziz, informou à AFP que não há perspectiva de paz enquanto o governo não aceitar impor a lei islâmica, a sharia, no país. O grupo também quer que a tropas dos Estados Unidos saiam do Afeganistão.
O governo insiste em manter a Constituição intocada, mas o analista de segurança Ayesha Siddiqa alertou que o regime talvez tenha que ceder em alguns pontos.
"Olhando para a história, toda vez que uma liderança laica tentou fazer uma concessão, a teocracia do país se aprofundou, e esse é um desses momentos".
"Nós já somos uma teocracia híbrida e estamos caminhando na direção de ficarmos mais teocráticos".
No passado, acordos de paz locais foram rapidamente quebrados.
Os esforços do governo em incentivar as negociações de paz no ano passado foram interrompidos abruptamente quando um líder do Talibã, Hakimullah Mehsud, foi morto num ataque de drone americano.