Genebra - A ONU acusou nesta quarta-feira (5/2) o Vaticano de violar a Convenção de Direitos da Criança, depois de publicar um relatório muito crítico no qual exige que se denuncie à polícia todos os casos de pedofilia dentro da Igreja. Nas conclusões do relatório, o Comitê convoca a Santa Sé a "afastar imediatamente de suas funções todos os autores conhecidos e suspeitos de abusos sexuais de crianças, e denunciá-los às autoridades competentes para que os investiguem e processem".
Assim como outros signatários da Convenção da ONU dos Direitos da Criança em 1989, o Vaticano está submetido à vigilância do Comitê. Sua presença no mês passado na audiência foi a primeira desde a explosão do escândalo de abusos sexuais em muitos países, da Europa, América Latina e Estados Unidos. Desde 2001, os casos de pedofilia cometidos no seio da Igreja foram tratados de forma interna pela Congregação para a Doutrina da Fé, o equivalente de um ministério da Justiça no Vaticano.
O Comitê da ONU se queixa de não ter recebido dados de todos os casos de pedofilia estudados pela Congregação, nem sobre as punições aplicadas. Além disso, criticou o recurso a "medidas disciplinares que permitiram à grande maioria de autores e a quase todos os que acobertaram abusos de crianças escapar à justiça dos países onde estes crimes foram cometidos".
O Comitê criticou especialmente o "código de silêncio" imposto ao clero sob ameaça de excomunhão. Bento XVI, papa de 2005 a 2013, foi o primeiro a se desculpar pelos abusos cometidos contra menores, e propôs uma política de tolerância zero, que, segundo seus críticos, não foi acompanhada por todas as medidas necessárias para eliminar o problema. Seu sucessor, Francisco, disse que a pedofilia no seio da Igreja é uma vergonha e em dezembro criou uma comissão para investigar estes crimes, preveni-los e atender as vítimas.
O Comitê da ONU deu as boas-vindas à iniciativa, afirmando, no entanto, que ela não vai longe o suficiente e que a Santa Sé deveria criar um organismo independente de direitos humanos para se ocupar da questão. Também declarou que os arquivos da Igreja deveriam ser abertos para que os culpados de pedofilia e seus cúmplices sejam responsabilizados.