O Ocidente anunciou nesta segunda-feira (3/2) um pacote de ajuda econômica à Ucrânia, enquanto a oposição ucraniana se prepara para pedir ao Parlamento uma anistia incondicional e uma reforma constitucional.
Depois da decisão do presidente Yanukovytch de não assinar um acordo de associação com a União Europeia, no final de novembro, a Ucrânia mergulhou em sua pior crise desde a independência.
A União Europeia avalia junto com os Estados Unidos e o Fundo Monetário Internacional (FMI) uma maneira de ajudar financeiramente o país, desde que Kiev se comprometa com o fim da violência e com a realização de reformas, anunciaram nesta segunda-feira os serviços da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
Este "Plano ucraniano" deve englobar diferentes setores da economia "para melhorar as coisas", segundo Ashton, que acrescenta que os "números não serão modestos", citando a possibilidade de oferecer garantias financeiras, ajuda a investidores ou ainda o apoio à moeda ucraniana para garantir a sua estabilidade.
Esaa oferta daria aos líderes de Kiev uma alternativa à ajuda econômica fornecida por Moscou, que colocou sobre a mesa 15 bilhões de dólares em créditos e uma redução significativa do preço do gás.
A Rússia não reagiu até o momento a esse anúncio, mas lançou uma advertência à oposição ucraniana, pedindo que renuncie às ameaças e ultimatos.
"A Rússia está muito preocupada pela aspiração das forças de oposição ucraniana de fazer com que a situação se deteriore ainda mais no país", afirmou o Ministério russo das Relações Exteriores, lembrando que um opositor pediu a criação de "unidades de autodefesa".
As autoridades ucranianas também não se manifestaram. "Não posso comentar essas declarações, porque não posso confirmá-las. Ninguém falou comigo", limitou-se a dizer o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Léonid Kojara, durante uma coletiva de imprensa.
Ele acrescentou que Ashton é esperada em seu país para esclarecimentos.
"Ao longo das negociações (sobre um acordo de associação), a UE nunca indicou que tipo de ajuda forneceria à Ucrânia", afirmou o ministro.
Difícil superar a oferta russa
Em uma entrevista publicada nesta segunda-feira no Wall Street Journal, Ashton não deu indicações sobre o eventual fundo.
Para um diplomata que não quis se identificar, "trata-se de contabilizar tudo o que os europeus podem colocar sobre a mesa, junto aos americanos". "Mas será difícil superar a oferta russa", considerou.
Moscou, que já entregou 3 bilhões em ajuda, advertiu que a concessão do restante dependerá da situação política do futuro governo ucraniano.
Durante as negociações sobre o acordo de associação, a UE propôs 610 milhões em ajuda financeira. Mas este empréstimo, subordinado ao programa de reformas do FMI, foi considerado irrisório pelo presidente Yanukovytch.
Em seguida, seu primeiro-ministro Mykola Azarov, que renunciou e deixou o país, estimou em 20 bilhões de euros a ajuda financeira que o seu país necessita da UE.
Nesta segunda, as primeiras informações sobre uma eventual ajuda ocidental foram acompanhadas pelo anúncio do aumento da dívida do gás, que totaliza 3,35 bilhões de euros. Uma forma de lembrar até que ponto a Ucrânia depende financeiramente da Rússia.
Yanykovytch, que voltou ao trabalho nesta segunda-feira após uma licença médica, precisa coordenar a formação de um novo governo após a renúncia em bloco do gabinete de Azarov e a negativa da oposição de entrar na equipe.
Ele aproveitou o dia para participar de uma "mesa redonda", onde denunciou o "extremismo" dos manifestantes e acusou a oposição "de incitação ao ódio", motivada pela "luta pela queda do poder", sem citar nomes.
Nos próximos dias, ele deverá participar dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, segundo seu ministro das Relações Exteriores. Os Jogos começam no dia 7 de fevereiro.
Já o Parlamento ucraniano retoma na terça-feira os seus trabalhos. A oposição deve aproveitar a ocasião para propor uma lei de anistia aos manifestantes detidos.
A oposição também pretende promover uma reforma constitucional e resgatar Lei Fundamental de 2004, resultado da Revolução Laranja pró-ocidental e que limita dos poderes do chefe de Estado.
Em Paris, o presidente François Hollande fez um apelo "ao diálogo e a uma solução política" na Ucrânia, considerando que a situação é "grave" e exige "a maior vigilância".