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Comunidade internacional fracassa sobre ajuda humanitária à Síria

Ministra italiana, destacou, por sua vez, que o "diálogo político que, nós sabemos, será longo e complicado, deveria ser tratado separadamente das questões humanitárias"

Os participantes de uma reunião sobre a ajuda humanitária à Síria lamentaram nesta segunda-feira (3/2), em Roma, que esta questão não foi tratada de forma adequada nas negociações em Genebra na semana passada.

"Todos nós já expressamos nessa manhã nossa decepção com o fato de que, durante as discussões na semana passada em Genebra, tudo ficou centrado no plano político, enquanto não houve progresso no plano humanitário", declarou Valerie Amos, secretária-geral adjunta das Nações Unidas, durante uma coletiva de imprensa.

"Nós consideramos a questão humanitária como um potencial para restaurar a confiança entre as duas partes", acrescentou Amos. Ela lembrou que entre as sete milhões de pessoas atingidas pela guerra na Síria, 3,3 milhões "necessitam de forma urgente de ajuda humanitária".

A ministra italiana das Relações Exteriores, Emma Bonino, destacou, por sua vez, que o "diálogo político que, nós sabemos, será longo e complicado, deveria ser tratado separadamente das questões humanitárias". "Os progressos humanitários são insuficientes" e são impedidos por "duas questões centrais": uma é a questão do acesso à ajuda, "este é o ponto essencial.

Todos os tipos de ajuda -alimentar, de medicamentos- estão prontas a serem enviadas, não temos problemas técnicos", insistiu. "O segundo problema é a proteção dos civis, enquanto as escolas e hospitais continuam a ser, ainda hoje, alvos de bombardeios". "Nós reiteramos que isso não pode ser aceito. Não podemos mai aceitar pré-condições impostas ao acesso da ajuda humanitária, em virtude das normas do direito internacional", declarou.

[SAIBAMAIS]Na Síria, vive-se a "pior tragédia" de nossa época, enfatizou. Durante a abertura da reunião do grupo de trabalho internacional sobre os desafios humanitários do conflito sírio, a ministra foi ainda mais dura, considerando que "a comunidade internacional fracassou estrepitosamente, ao não garantir o acesso à ajuda humanitária nas proporções desejadas". "É uma vergonha", acrescentou. "Mais de 100 mil pessoas foram mortas, centenas de milhares de pessoas ficaram feridas. Violações dos direitos humanos e violações do direito humanitário internacional são muitas e constantes", alertou.

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A comissária europeia para a Ajuda Humanitária, Kristalina Georgieva, também participou do encontro, a dez dias da retomadas das negociações na Suíça entre a oposição e o regime, que terminaram na sexta-feira sem resultados concretos. Representantes do Iraque, Irã, Líbano, Estados Unidos, Rússia, Catar, Arábia Saudita também estiveram presente, de acordo com a lista de participantes fornecida aos jornalistas. O ex-embaixador na Síria, Eric Chevalier, representou a França. A primeira rodada de negociações sobre a paz na Síria evidenciou que o abismo entre o regime e a oposição continua profundo, considerou a ONU no último dia de discussões em Genebra, onde o regime rejeita qualquer concessão.

Durante uma semana desta primeira rodada de negociações diretas desde o início da guerra na Síria, há quase três anos, as duas partes em conflito defenderam suas posições, com o regime insistindo que não vai ceder em relação à transição política e a oposição afirmando que Damasco "é obrigado a negociar" sobre essa questão central do conflito que continua a devastar o país. As negociações, lançadas por pressão dos Estados Unidos, que apoiam os rebeldes, e da Rússia, aliada do regime, devem ser retomadas no dia 10 de fevereiro, segundo o enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Lakhdar Brahimi, mediador do diálogo.