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Presidente da Ucrânia suspende leis repressivas contra manifestantes

O presidente fez outra concessão para tentar por fim à crise que paralisa o país há dois meses

O presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, aceitou nesta segunda-feira abolir as leis repressivas contra os manifestantes, mas disse que os opositores presos só serão libertados se as barricadas forem levantadas em Kiev.

Após uma nova reunião com os líderes da oposição, o ex-boxeador Vitali Klitschko, além de Arseni Yaltsenyuk, líder do partido da opositora presa Yulia Timoshenko, e do nacionalista Oleg Tiagnybok, o presidente fez outra concessão para tentar por fim à crise que paralisa o país há dois meses.

Segundo um comunicado da Presidência, Yatsenyuk recusou formalmente a oferta de Yanokovich para se tornar primeiro-ministro.

Na terça-feira, o Parlamento se reunirá em sessão extraordinária que poderia abrir o caminho para uma solução do conflito.

A crise ucraniana, que preocupa cada vez mais as capitais ocidentais, será ainda tema principal da cúpula entre União Europeia e Rússia, também nesta terça.

Os protestos em Kiev, que começaram em novembro devido à negativa do presidente a assinar um acordo de cooperação com a UE e por sua aproximação com a Rússia, se estenderam a todo o país e se tornaram uma revolta para pedir sua demissão.

Após a ocupação, na madrugada de segunda-feira, da sede do ministério da Justiça em Kiev, as autoridades ameaçaram decretar estado de emergência. Mas, horas depois, o ministro de Relações Exteriores desmentiu a informação.

"Não há intenção de decretar estado de emergência. Esta medida está fora de cogitação", disse Leonid Kojara durante coletiva de imprensa.

O prédio do ministério da Justiça, um dos muitos edifícios públicos nas mãos dos manifestantes no centro de Kiev, foi evacuado mas vários homens continuam impedindo o acesso na porta.

Os líderes da oposição disseram em comunicado conjunto estarem dispostos a negociar "apesar da tentativa das autoridades de abandonar as negociações e declarar estado de emergência".

Protestos em todo o país

Os manifestantes em Kiev controlam agora grande parte do centro da cidade ao redor da praça da Independência, o epicentro dos protestos, protegida por ativistas com toucas ninja e armados com bastões de beisebol.

Mas a revolta se espalhou para outras regiões do país, também no leste e no centro russófono, tradicionalmente favoráveis ao presidente.

No total, a administração de 10 das 25 regiões do país está bloqueada pelos manifestantes.

No sábado, Yanukovich propôs a dois líderes da oposição, Yatsnyuk e Klitschko, dirigir um novo governo com poderes reforçados, uma concessão sem precedentes após dois meses de protestos.

Mas Klitschko qualificou a oferta de "envenenada", após uma semana marcada pela violência entre a polícia e manifestantes, na qual morreram pelo menos três pessoas.

A opositora presa Yulia Timoshenko pediu nesta segunda à oposição que não aceite o compromisso "humilhante" que Yanukovich propõe.

"Peço categoricamente aos líderes da oposição que não aceitem estas condições humilhantes", disse Timoshenko, uma das líderes da ;Revolução Laranja; pró-ocidental de 2004.

"Yanukovich estará mais disposto a negociar esta semana porque está debilitado e os manifestantes têm cada vez mais força", escreveu o analista político Yevgen Glibovitsky no jornal Ukrainska Pravda.

A sessão do Parlamento de terça-feira coincide com a cúpula entre a União Europeia e Rússia em Bruxelas, em que o presidente russo, Vladimir Putin, se reunirá com o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.

"Precisamos colocar todos os temas sobre a mesa e ter um diálogo franco", disse nesta segunda-feira uma autoridade europeia.