No domingo pela manha, sob um frio glacial de 20 graus abaixo de zero, grupos de manifestantes voltaram a se concentrar na Praça da Independência onde prestarão uma homenagem aos manifestantes mortos durante os recentes confrontos com a polícia.
Yanukovytch propôs o posto de primeiro-ministro a Arseni Yatsneniuk, líder do partido da opositora Julia Timoshenko. Também ofereceu ao ex-boxeador Vitali Klitschko o cargo de vice-primeiro-ministro de Assuntos Humanitários.
"Nossa exigência é que sejam realizadas eleições presidenciais este ano" e não em 2015 como está previsto, disse o ex-boxeador aos manifestantes. "Não cederemos, mas continuaremos negociando", argumentou.
Poucas horas depois do anúncio, a violência continuava em Kiev e um grupo de cerca de 2.000 manifestantes atacaram um edifício chamado de Casa Ucraniana, usada como base de operações pela polícia, que respondeu lançando granadas. As forças de segurança que se achavam no interior do prédio foram forçadas a se retirar.
[SAIBAMAIS]
Um jornalista da AFP constatou neste domingo que os opositores limpavam o local, coberto por cacos de vidro e outros traços do confronto.
"Cumprimos com nossa tarefa. A Casa Ucraniana foi tomada sem que houvesse o derramamento de uma gota de sangue", proclamou Vitali Klitschko, um dos chefes da oposição.
Protestos ganham o país
A proposta de Yanukovytch chega após uma semana marcada pela violência na capital, com pelo menos três manifestantes mortos, e na qual os protestos se estenderam pela primeira vez a outras áreas do país.
O presidente aceitou, além disso, a criação de um grupo de trabalho para "modificar a legislação sobre os referendos e talvez, por meio deste mecanismo, propor emendas à Constituição", que dá amplos poderes à presidência, informou um comunicado.
A oposição pede a volta à Constituição de 2004, que definia a Ucrânia como uma república parlamentar na qual o primeiro-ministro tinha plenos poderes. Contudo, o texto, uma das conquistas da ;Revolução Laranja; pró-ocidental, foi emendada para dar todo o poder ao presidente.
Há mais de dois meses a oposição ucraniana está mobilizada contra o presidente, a quem reprova por ter renunciado a um acordo de cooperação com a União Europeia a favor de uma aproximação com a Rússia.
Na semana passada os protestos se radicalizaram como consequência da aprovação de uma série de leis repressivas contra os manifestantes.
Yanukovytch que, neste sábado, também se encontrou com os principais líderes de seu partido, prometeu buscar "um compromisso" para revisar estas leis.
Contudo, o ministro do Interior, em um sinal dos desacordos dentro do poder, denunciou os "radicais" e disse que as tentativas de negociar são vãs.
No sábado foi confirmada a morte de um homem de 45 anos que estava internado e que, segundo o partido de oposição Svoboda, morreu após receber disparos na quarta-feira.
Esta morte elevou a três o número oficial de vítimas nos enfrentamentos entre polícia e manifestantes, apesar de a oposição anunciar que houve seis.
Após dois dias de relativa calma, a tensão voltou a aumentar no sábado de madrugada na Gruchevski de Kiev, onde esta semana aconteceram cenas de guerrilha urbana.
Fora de Kiev, os protestos estão se estendendo à maioria das regiões do oeste, tradicionalmente mais próximas à Europa, onde milhares de manifestantes pediram a renúncia dos governadores nomeados pelo presidente e ocuparam edifícios públicos.
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Pela primeira vez os protestos também chegaram a regiões do norte (Chernígov) e do leste (Poltava). Na cidade de Donetsk, o reduto de Yanukovytch, houve nos últimos dias manifestações de apoio ao poder.
O presidente também está sob pressão da União Europeia, que pediu "gestos concretos" para que a calma volte a reinar. A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, visitará Kiev na quinta e na sexta-feira.