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Delegação e oposição da Síria se reúnem frente a frente em Genebra

Membros do regime de Bashar al-Assad e da oposição entraram na sala por portas diferentes, se sentaram de frente um para o outro e não se dirigiram a palavra

Genebra - As delegações do regime sírio e da oposição se reuniram rapidamente neste sábado (25/1) em um sala da sede da ONU em Genebra, na primeira tentativa de negociar frente a frente uma solução para o conflito na Síria.

[SAIBAMAIS]Os dois grupos se encontraram no início da manhã para ouvir durante 30 minutos o discurso de introdução do emissário especial da ONU para a Síria, Lakhdar Brahimi.

Membros do regime de Bashar al-Assad e da oposição entraram na sala por portas diferentes, se sentaram de frente um para o outro e não se dirigiram a palavra. O encontro aconteceu a portas fechadas, longe das câmeras e da imprensa.


"Temos sentimentos confusos", confessou Anas al-Abdé, um dos negociadores da oposição síria, na saída da reunião. "Não foi fácil para nós nos sentarmos com a delegação que representa os assassinos de Damasco, mas nós fizemos isso pelo bem do povo sírio, das crianças sírias e do futuro da Síria", disse o opositor à imprensa, reunida no Palácio das Nações em Genebra, onde acontecem as negociações.

O regime sírio compartilhava do mesmo sentimento que seus detratores. "Talvez nós tenhamos que ter engolido nosso rancor, mas nós estamos aqui, pra valer, temos instruções muito claras", declarou à AFP o chefe das negociações do regime, Bachar al-Jaafari.

Todos os delegados devem voltar ao mesmo local durante a tarde para realmente entrar na discussão séria. Os negociadores dos dois lados poderão se falar por intermédio de Lakhdar Brahimi.

"Durante o segundo encontro, tentaremos falar de um cessar-fogo e dos problemas humanitários", disse Anas al-Abdé.

Segundo o negociador, a oposição quer abordar inicialmente o futuro de Homs, cidade no centro da Síria sitiada pelas tropas do regime há quase 600 dias.

Abdé disse buscar um acordo por um cessar-fogo de "uma a duas semanas" com um corredor humanitário.

O vice-minsitro sírio das Relações Exteriores, Fayçal Moqdad, admitiu que a "situação em Homs e em Aleppo merece ser discutida". "Mas hoje, não discutiremos temas que levam tempo e reflexão. Falaremos de questões gerais, essenciais, que não dividem o povo sírio", insistiu Moqdad.

Genebra I ainda em debate

As negociações deveriam ter começado nesta sexta-feira, mas a ONU e os sírios perderam 24 horas depois que a oposição se recusou a sentar-se à mesma mesa que o regime enquanto o governo não reconhecesse o princípio de um "órgão" de transição conforme propõe o texto adotado em 2012 durante a Conferência de Genebra I.

Regime e oposição discordam sobre a interpretação de Genebra I: os opositores de Bashar al-Assad reclamam que a adoção deste princípio implicaria necessariamente a saída do presidente do poder, cenário veementemente rejeitado por Damasco, que propõe um governo de união.

A resposta do governo sírio à recusa da oposição de se sentar à mesma mesa que o ministro Muallem não demorou a chegar. O governo sírio ameaçou fazer as malas e partir, acusando seus detratores de falta de seriedade.

Brahimi conseguiu convenceu as delegações do regime de Bachar al-Assad e da oposição a se sentarem à mesma mesa de negociações neste sábado.

O primeiro ciclo de negociações deve acontecer "até o fim da semana que vem".

Na opinião de diplomatas e observadores, as chances de sucesso das negociações são mínimas enquanto houver um grande abismo entre oposição e partidários do regime.

Uma parte da equação diz respeito também à capacidade dos "padrinhos" dos dois lados - Estados Unidos e Rússia - de fazerem manobras políticas nos bastidores.

Na Síria, o exército fez ataques aéreos em zonas rebeldes das cidades de Damasco e Aleppo - informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Combates também foram registrados nos arredores do campo palestino de Yarmuk, no sul de Damasco, majoritariamente controlado pelos combatentes rebeldes, e sitiado pelo exército sírio.