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Mesmo após cessar-fogo, confrontos são vistos no Sudão do Sul

O porta-voz adjunto da ONU, Farhan Haq, informou que os choques ocorreram depois da entrada em vigor do cessar-fogo

Apesar do cessar-fogo que entrou em vigor nesta sexta-feira (24/1), foram reportados combates "esporádicos" entre o governo do Sudão do Sul e forças da oposição, informou a ONU. "A missão da ONU no Sudão do Sul diz que hoje (sexta-feira) houve combates em partes do país", disse a jornalistas o porta-voz adjunto da ONU, Farhan Haq, acrescentando que os choques ocorreram depois da entrada em vigor do cessar-fogo, às 15h30 de Brasília.

"A missão da ONU no Sudão do Sul informa que confrontos esporádicos foram registrados em algumas regiões do país hoje", inclusive depois do cessar-fogo, informou o porta-voz da ONU Farhan Haq. Rebeldes sul-sudaneses acusaram o Exército de Kiir de atacar suas posições antes do cessar-fogo, promovido por países do leste da África e acertado na quinta-feira, em Adis Abeba.

"As forças de Salva Kiir (presidente sul-sudanês) estão atacando nossas posições no estado petrolífero da Unité" (norte), declarou Lul Ruai Kuang, um porta-voz do acampamento Machar, acrescentando que uma outra ofensiva foi realizada no estado de Jonglei (leste).



O Exército do governo declarou não saber nada sobre qualquer combate desde que o acordo foi alcançado.

A situação está "calma", repetiu o porta-voz do Exército sul-sudanês, Philip Aguer, garantindo "não ter ouvido falar de nenhum combate" ao longo do dia.

Nesta sexta, o presidente Kiir afirmou que "o conflito (...) será resolvido via diálogo pacífico" e fez um apelo aos deslocados para que voltem para seus lares. Alguns dos deslocados entrevistados pela AFP comemoraram a trégua, mas disseram temer sair dos acampamentos onde se encontram refugiados.

"É crucial que as duas partes implementem o acordo de cessação das hostilidades na íntegra e imediatamente", afirmou o porta-voz da ONU. Haq acrescentou que as Nações Unidas, que implementam uma grande operação de manutenção da paz no Sudão do Sul, estavam prontas para dar "apoio crítico" para um esquema de monitoramento do cessar-fogo.

"As Nações Unidas vão continuar a proteger os civis em risco e a manter os apelos para que todas as partes assegurem a segurança do pessoal e das instalações da ONU", disse Haq. As Nações Unidas informaram que os dois lados cometeram "atrocidades" no conflito que eclodiu em 15 de dezembro e acredita-se que tenha deixado milhares de mortos.

Haq informou que, agora, há 35 mil civis abrigados em dois complexos da ONU na capital, Juba, e 10.300 no complexo da ONU em Bor, capital do estado de Jonglei, que trocou de mãos várias vezes durante as batalhas.

Quase 700 mil pessoas foram retiradas de suas casas, segundo o último balanço publicado pela ONU. Nesta sexta, a organização estimava em 76 mil o total de pessoas acolhidas em suas oito bases instaladas no país, o número mais alto desde o início das hostilidades.

Desde 15 de dezembro, o Sudão do Sul está mergulhado em confrontos entre as forças leais ao presidente Kiir e tropas fiéis ao ex-vice-presidente Machar, demitido em julho. O conflito já deixou milhares de mortos. Segundo observadores, o número de óbitos pode chegar a pelo menos 10 mil.

Depois de longas e cansativas negociações em Adis Abeba, sob a mediação da organização regional Igad, os dois lados do confronto assinaram, finalmente, na quinta-feira à noite, um cessar-fogo previsto para entrar em vigor em 24 horas - por volta das 15h30 desta sexta (horário de Brasília).

O conflito no Sudão do Sul se origina nas antigas rivalidades políticas e étnicas, herdadas da longa guerra civil (1983-2005) que dividiu o território antes da secessão do Sudão do Sul, em julho de 2011.