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Estudo revela simbiose fabulosa entre o bicho-preguiça e a traça

Os cientistas descobriram que, ao descer, as traças que vivem nos pelos da preguiça, põem seus ovos nas fezes do mamífero

Paris - Imagine uma criatura tão preguiçosa que busca alimentos no próprio pelo e só se move uma vez por semana para defecar. Bom, esta criatura existe e é um tipo de bicho-preguiça que, como nas fábulas infantis, se beneficia de uma relação muito próxima com as traças.

Depois de estudar o alance do comportamento ocioso deste mamífero arborícola de três dedos, a preguiça-de-bentinho ("Bradypus tridactylus"), natural das bacias dos rios Amazonas e Orinoco, uma equipe de biólogos americanos revelou nesta quarta-feira até que ponto estes pequenos animais chegam para honrar seu nome.

Estes bichos-preguiça aperfeiçoaram em particular a arte da inércia através de uma lenta dança, cuidadosamente coreografada com uma espécie específica de traça, revelou um estudo publicado nas Atas da Real Sociedade B., revista da Royal Society de Londres dedicada à biologia.

As preguiças habitam o chamado dossel florestal, formado pelas copas das árvores, onde se alimentam principalmente de folhas.

Mas, segundo este estudo, uma vez por semana, os animais descem para defecar no chão, o que os deixa particularmente vulneráveis aos predadores. Além disto, o esforço lhes custa "ao redor de 8% da energia que ingerem em um dia".

Por que, então, as preguiças se incomodam em descer?

Os cientistas descobriram que, ao descer, as traças que vivem nos pelos da preguiça, põem seus ovos nas fezes do mamífero, onde as larvas se desenvolvem antes de emergir como adultos e voar para a copa da árvore para se unir ao resto da colônia.

As traças atuam como um tipo de fertilizante, potencializando os níveis de nitrogênio na pele da preguiça que, por sua vez, estimula o crescimento de algas.

A estrutura única do pelo da preguiça-de-bentinho, cujas ranhuras abrigam grande quantidade de água da chuva, permite que estas algas se reproduzam.

Estas verdadeiras hortas de algas, "especialmente ricas em carboidratos e gorduras digeríveis", complementam a dieta da preguiça, à base de folhas e muito pouco nutritivas, afirmaram os cientistas.

Esta "complexa" simbiose "reforça os aspectos fundamentais da conduta da preguiça e seu histórico de vida, e pode fomentar (sua) ociosidade", destacou um resumo da pesquisa.

"Esta fonte até agora desconhecida de alimentos poderia explicar porque as preguiças-de-dentinho têm tanta dificuldade em se alimentar bem em cativeiro", destacaram os pesquisadores.



"Além da ingestão de nutrientes, também é possível que estes cultivos de algas aumentem as chances de sobrevivência das preguiças ao se camuflarem de predadores aéreos" no meio da vegetação, acrescentaram.