A Rússia denunciou nesta terça-feira (21/1) uma situação que "escapa a qualquer controle na Ucrânia", palco de violentos confrontos desde domingo, pouco antes da entrada em vigor de leis reforçando as sanções contra os manifestantes, apesar dos alertas dos países ocidentais.
Após uma segunda noite de choques, havia alguma calma no centro de Kiev, sem ataques de manifestantes a policiais. O forte esquema de segurança era mantido, com policiais munidos de escudos, constatou um jornalista da AFP.
As negociações entre o governo e a oposição parecem estar em ponto morto. Vitali Klitschko, um dos líderes opositores, que quer discutir apenas com o chefe de Estado, deixou a Presidência sem ser recebido pelo presidente Viktor Yanukovytch porque o líder ucraniano estava "ocupado".
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, considerou nesta terça-feira (21/1) que a situação está prestes a "escapar a qualquer controle" na Ucrânia e denunciou o apoio "indecente" dado, segundo ele, à oposição pelos europeus.
Estes acusam o poder ucraniano de ter provocado a escalada da violência, adotando leis repressivas contra os manifestantes.
O jornal do Parlamento, Golos Ukrainy ("A Voz da Ucrânia"), publicou os textos que estabelecem, a partir de agora, penas de até cinco anos de prisão para os manifestantes, e que podem ser aplicados aos opositores que protestam há dois meses em Kiev contra o presidente Viktor Yanukovytch.
As leis em questão vão entrar em vigor à meia-noite de quarta-feira.
A adoção das novas leis deu novo fôlego ao movimento de contestação. No domingo, 200.000 pessoas saíram às ruas de Kiev em um protesto em que confrontos foram registrados.
Olhos feridos
Segundo um correspondente da AFP no local, vários jornalistas ficaram gravemente feridos nos olhos atingidos por disparos de balas de borracha das forças de ordem, que, aparentemente, miravam na cabeça das pessoas.
Dois jornalistas do escritório ucraniano da rádio americana Radio Free Europe/Liberty afirmaram em um vídeo, onde aparecem com vários machucados no rosto, que tinham sido agredidos pelas forças de ordem quando cobriam as manifestações.
De acordo com os ministérios da Saúde e do Interior, quase 200 pessoas, entre policiais e civis, ficaram feridas desde domingo.
E, segundo uma fonte médica, pelo menos uma pessoa precisou ter a mão amputada e várias morreram.
No total, 32 pessoas foram detidas, indicou o Ministério do Interior.
Na madrugada desta terça-feira, milhares de opositores ainda ocupavam as ruas de Kiev, apesar das baixas temperaturas, que chegaram a atingir os -10;C. Novas barricadas já tinham sido erguidas.
Uma catapulta de madeira também foi construída e instalada perto do Parlamento.
O presidente Viktor Yanukovytch declarou na segunda-feira que não podia tolerar que as manifestações se transformassem em distúrbios em massa, enquanto a Procuradoria-Geral do Estado indicou que os confrontos dos últimos dois dias entre manifestantes e policiais são "um crime contra o Estado".
Oposição vê "provocadores"
"Imaginem que isso ocorresse em qualquer país da União Europeia. Possível? Não teria sido permitido nunca", declarou o chanceler russo Serguei Lavrov durante uma coletiva de imprensa.
"Agora há revoltas, ataques contra a polícia, incêndios, coquetéis molotov, dispositivos explosivos. É lamentável, é uma violação de todas as normas europeias", acrescentou.
Já a oposição acusou "provocadores" enviados para as manifestações com o objetivo de desestabilizar a situação.
As manifestações na Ucrânia começaram há dois meses, depois que Viktor Yanukovytch se negou a assinar um acordo de associação com a União Europeia, optando por ficar ao lado da Rússia.
Os europeus acusaram o governo russo de ter pressionado a Ucrânia, principalmente, com ameaças econômicas.
As novas leis votadas no Parlamento preveem penas de prisão de 15 dias para aqueles que montarem barracas em locais públicos e de até cinco anos de detenção para pessoas que bloquearem prédios públicos.
Um outro texto obriga as ONGs que se beneficiam de financiamentos ocidentais a se registrarem como "agentes do exterior", assim como aconteceu na Rússia após as manifestações ocorridas entre 2011 e 2012.