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Ataques em Benghazi poderiam ter sido evitados, diz Senado dos EUA

A Comissão de Inteligência do Senado fez várias audiências e entrevistas com sobreviventes do duplo ataque à representação diplomática americana e ao anexo da Agência Central de Inteligência, em 11 de setembro de 2012

Os ataques que mataram quatro americanos na Líbia, entre eles o embaixador Christopher Stevens, poderiam ter sido evitados com a correção de "conhecidos problemas de segurança" nas missões dos Estados Unidos em Benghazi - concluiu um relatório do Senado divulgado nesta quarta-feira (15/1).

Para chegar a essa conclusão, os investigadores da Comissão de Inteligência do Senado fizeram várias audiências e entrevistas com sobreviventes do duplo ataque à representação diplomática americana e ao anexo da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês), na cidade de Benghazi, em 11 de setembro de 2012.

O episódio desencadeou um escândalo político nos Estados Unidos, com os congressistas republicanos acusando o governo Barack Obama de tentar ocultar a natureza dos ataques. Segundo a administração Obama, os responsáveis teriam sido militantes motivados por um vídeo anti-Islã postado on-line.



As falhas gritantes na segurança também chocaram os republicanos, que realizaram ao longo do ano uma série de audiências no Congresso com integrantes do governo.

O relatório, que expõe várias descobertas em relação aos ataques, afirma que o Departamento de Estado fracassou ao ignorar os alertas para melhorar a segurança nos prédios americanos, apesar da rápida deterioração das condições de segurança na Líbia.

O documento culpa as agências de inteligência por não terem nem mesmo notificado os oficiais militares do Comando Americano na África da existência de um anexo da CIA perto da missão diplomática em Benghazi.

[SAIBAMAIS]"A Comissão descobriu que os ataques poderiam ter sido evitados, com base em ampla análise de inteligência sobre a atividade terrorista na Líbia - como ameaças e ataques anteriores contra alvos ocidentais - e pelas conhecidas falhas de segurança na missão dos Estados Unidos", declarou o painel.

"O Departamento de Estado deveria ter aumentado, significativamente, suas medidas de segurança em Benghazi, baseando-se na deterioração da segurança no terreno e nos relatos de ameaça por parte da comunidade de inteligência", acrescenta a nota divulgada pelos senadores.

O informe de 85 páginas tenta esclarecer a confusão em torno das declarações iniciais do governo Obama sobre o ataque, que, "de forma imprecisa", referiu-se a um protesto na missão americana anterior ao ataque, "sem declarações de testemunhas ou Inteligência suficiente para corroborar tal afirmativa".

Além disso, as autoridades de Inteligência levaram "muito tempo para corrigir esses informes equivocados", aumentando a confusão sobre o que de fato aconteceu.

O documento indica ainda que a investigação do FBI sobre os atentados tem sido obstaculizada em Benghazi, onde "pelo menos 15 indivíduos que apoiam ou são úteis aos Estados Unidos nessa investigação foram mortos" desde o ocorrido.

O relatório pode alimentar a polêmica sobre a responsabilidade do Departamento de Estado, então liderado pela secretária Hillary Clinton, e da gestão Obama. Embora já tenha identificado vários indivíduos responsáveis pelos ataques, o governo ainda não conseguiu levar os suspeitos à Justiça.