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Egito vota Constituição transformada em plebiscito sobre chefe do Exército

A votação foi marcada por um atentado sem vítimas e pela morte de oito pessoas em confrontos entre partidários e opositores a Mohamed Mursi

Os egípcios votaram nesta terça-feira (14/1) no referendo de uma nova Constituição, transformado em um plebiscito sobre o futuro político do general Abdel Fatah al-Sissi, chefe do Exército e homem forte do país.

A votação foi marcada por um atentado sem vítimas e pela morte de oito pessoas em confrontos entre partidários e opositores a Mohamed Mursi, presidente islâmico deposto em julho do ano passado pelas Forças Armadas.

Além disso, as forças de segurança anunciaram a detenção de pelo menos 140 pessoas, acusadas de perturbar a votação, incluindo membros do movimento de Mursi, a Irmandade Muçulmana.

Os centro de votação fecharam às 19h00 GMT (17h00) e serão reabertos às 07h00 GMT (05h00 de Brasília) de quarta-feira.

Três dias antes da votação, Al-Sissi, que acumula as funções de vice-primeiro-ministro, ministro da Defesa e comandante em chefe do Exército, declarou que vai se candidatar às eleições presidenciais previstas para este ano se "o povo exigir" e se as forças armadas apoiarem sua candidatura.

Em seu discurso no sábado, Al-Sissi ligou seu apelo para que as pessoas votem a favor do "Sim" ao seu futuro político, afirmando que seria candidato apenas se o povo pedir.



A votação é realizada em quase 30.000 colégios eleitorais espalhados por todo o país.

No Cairo, as pessoas se concentraram desde a madrugada em frente aos centros de votação instalados em escolas, em ruas vigiadas pela polícia e por soldados fortemente armados. Diante de uma escola para meninas, dezenas de eleitores agitavam bandeiras egípcias e gritavam slogans a favor do Exército e de Al-Sissi.

Poucas horas antes da abertura dos colégios eleitorais, uma bomba artesanal explodiu perto de um tribunal do Cairo sem deixar mortos ou feridos, embora as janelas e a fachada do edifício, no bairro de Imbaba, tenham sido muito danificadas.

Após a explosão, centenas de pessoas se reuniram diante do tribunal com cartazes e com imagens de Al-Sissi.

Em todo o país, oito pessoas morreram em confrontos entre partidários e adversários de Mursi.

No dia 3 de julho, o Exército derrubou o islamita Mohamed Mursi, primeiro presidente democraticamente eleito da história do país. Os partidários do presidente deposto continuam protestando diariamente em pequenos grupos, apesar da resposta firme do novo governo.

Desde a deposição de Mursi também foram registrados muitos ataques, principalmente com carros-bomba contra membros das forças de segurança, reivindicados por grupos jihadistas vinculados à Al-Qaeda.

Os militares instauraram um governo interino para que seja realizada uma transição democrática, cuja primeira etapa é o referendo sobre uma nova Constituição.

Mais de mil pessoas morreram pela repressão implacável do exército contra os partidários de Mursi desde sua queda, em particular o movimento islamita da Irmandade Muçulmana, cujos líderes foram quase todos detidos.

Assim como Mursi, eles estão sendo julgados por incitação ao assassinato de manifestantes quando estavam no poder e podem ser condenados à pena de morte.

Apesar da repressão, a Irmandade Muçulmana, declarada uma organização terrorista pelo governo, convocou um boicote do referendo.

O projeto de Constituição não inclui as referências religiosas acrescentadas durante a presidência de Mursi, mas aumenta os já amplos poderes do exército.

Al-Sissi parece ter confirmado em seu discurso de sábado o que analistas e funcionários de alto escalão já previam: o referendo se apresenta como um plebiscito sobre sua pessoa, porque o novo projeto de Constituição não apresenta grandes mudanças em relação à lei fundamental anterior.

A parte essencial do poder continua nas mãos do presidente e o exército ainda é o pilar do sistema.

Desde a queda do também chefe militar Hosni Mubarak, após uma revolta popular no início de 2011 depois de quase 30 anos de poder absoluto, os egípcios se dirigiram em três ocasiões às urnas para se pronunciar sobre textos ou emendas constitucionais.