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Papa condena o aborto, o tráfico humano e pede por solução de conflitos

Francisco também falou sobre "a exploração gananciosa dos recursos ambientais"

Cidade do Vaticano - O papa Francisco condenou nesta segunda-feira (13/1) o "horror do aborto" e o "crime do tráfico de seres humanos" perante o corpo diplomático, ao qual pediu um compromisso com a paz e o direito humanitário.

Por ocasião de sua primeira saudação a centenas de embaixadores, outros diplomatas e suas esposas reunidos na Sala Clementina, Francisco clamou pela resolução dos conflitos em todo o mundo, em particular na Síria, República Centro-Africana, Sudão do Sul, Iraque, Egito, Líbano, Israel/Palestina, Nigéria, Mali, Grandes Lagos, Chifre da África, Coreias. Em seu discurso, o papa argentino concentrou-se principalmente na exclusão e no tráfico, em que ele vê grandes "prejuízos para a paz".



"O tráfico de seres humanos, crime contra a humanidade", foi o momento mais forte de seu discurso, quando ele denunciou "as crianças utilizadas como soldados, abusadas ou mortas em conflitos armados, ou aquelas submetidas a um mercado nesta terrível forma de escravidão moderna que é o tráfico".

[SAIBAMAIS]"A paz é ferida por certas negações da dignidade humana", declarou, expressando seu "horror diante da ideia de que crianças nunca poderão ver o dia, vítimas do aborto". Sua denúncia mais solene do aborto até o momento. De acordo com sua visão franciscana de "criação", ele também falou sobre "a exploração gananciosa dos recursos ambientais". "Lembro-me de um ditado popular: ;Deus perdoa sempre, nós nos perdoamos às vezes, a natureza nunca perdoa quando é maltratada", observou Jorge Mario Bergoglio, citando "os efeitos devastadores de algumas catástrofes naturais recentes".

Ele também fez menção à desnutrição por causa do "desperdício de alimentos em muitos locais imersos na cultura do desperdício". Ressaltando, contudo, que "não são apenas os bens supérfluos que estão sujeitos ao desperdício, mas muitas vezes os seres humanos que são jogados como se fossem coisas que não são mais necessárias".

Francisco apelou novamente "para não excluir as pessoas da vida social" e defendeu a família, "a linguagem da paz" para a sociedade, que os Estados devem "apoiar, promover e consolidar". Ele também reiterou a sua preocupação com as "multidões" de deslocados e refugiados, "números anônimos" nos campos e vítimas dos naufrágios "da indiferença geral", como os ocorridos perto da ilha italiana de Lampedusa.

Diante de 183 delegações, incluindo do Sudão do Sul, Palestina e da União Europeia, Francisco apoiou os esforços diplomáticos para realizar a Conferência de Genebra 2, convocada para 22 de janeiro sobre a Síria. "Espero que a conferência de Genebra II, convocada para o dia 22 de janeiro, marque o início do desejado caminho da pacificação" na Síria, declarou o pontífice, que também pediu "o pleno respeito ao direito humanitário".

"É inaceitável que a população civil inocente seja atingida, sobretudo as crianças", afirmou o Papa argentino, que pediu "para que seja garantida de todas as formas a ajuda humanitária". Por iniciativa de Francisco, o Vaticano organizava nesta segunda-feira uma conferência de especialistas para fornecer contribuições ou pistas a uma solução de paz na Síria. Para a África Central, o Papa exortou a comunidade internacional a se envolver mais, enquanto a França lamentou a falta de mobilização ao seu lado.

Francisco falou ainda do centenário este ano da Primeira Guerra Mundial, um "desastre inútil", elogiando os esforços do Papa Bento XV, que havia defendido em vão "a força moral do direito" sobre a força das armas. Também houve pedidos contra a crescente perseguição aos cristãos: o êxodo de cristãos sob ameaça no Oriente Médio e sua "perseguição real" aqui e ali na África, a qual Francisco convida a combater por meio da não-violência.

Excepcionalmente, Francisco expressou preocupação com os abusos cometidos na Ásia contra a tradição da "coexistência pacífica", étnica e religiosa: atitudes "crescentes de fechamento, com base em motivações religiosos, tendem a privar os cristãos de sua liberdade". Quanto a América Latina, ele fez uma breve menção, evocando a situação dos "muitos migrantes que tentam entrar nos Estados Unidos".