Loura e sorridente, a infanta Cristina, filha mais nova do rei Juan Carlos I, está na linha de frente da tempestade que derruba a popularidade da família real espanhola e inflige um duro golpe em sua imagem de princesa moderna.
Cristina Federica Victoria Antonia de la Santísima Trinidad de Borbón y Grecia, de 48 anos, foi acusada nesta terça-feira (7/1) de supostos crimes fiscais e de lavagem de dinheiro. Ela foi convocada a prestar depoimento no dia 8 de março a um juiz de Mallorca, nas Ilhas Baleares.
O motivo deste novo golpe, o mais duro para uma família real em forte queda de popularidade, é sua suposta ligação com os negócios de seu marido, Iñaki Urdangarin, suspeito de desvio de recursos públicos por meio do Instituto Nóos, uma sociedade sem fins lucrativos.
Cristina, que integrou a diretoria da Nóos, já tinha sido acusada pelo juiz Castro em abril, na época por suposto tráfico de influência. Mas a decisão foi anulada por um recurso da Procuradoria.
A nova acusação não significa que a infanta vá ser necessariamente julgada, mas sua imagem de uma pessoa tranquila e afável, comprometida desde a incriminação de seu marido em 2011, será ainda mais afetada.
"A deterioração da imagem da infanta Cristina não tem volta, pelo menos por muito tempo", explicou à AFP o professor de História Contemporânea da Universidade Complutense de Madrid, Emilio de Diego.
Conhecida como a filha rebelde da família, mas também por suas atividades sociais, Cristina trabalha desde 1993 para a Fundação La Caixa, que em 2013 a enviou a Genebra para coordenar seus programas com agências internacionais.
"A infanta Cristina sempre foi a filha mimada da família. Acredito que por aí começaram alguns dos erros do monarca no plano familiar", considerou De Diego.
O caso Nóos desferiu um duro golpe contra a popularidade da monarquia.
O escândalo também acabou com a imagem de marido ideal de Iñaki Urdangarin, criada depois de seu suntuoso casamento no dia 4 de outubro de 1997. Ele é mantido fora dos atos oficiais da família real há dois anos.
Foi com o casamento que o rei Juan Carlos I concedeu o título de duquesa de Palma a sua filha, sétima na linha sucessória ao trono, atrás do príncipe herdeiro Felipe e de suas duas filhas, de sua irmã mais velha, a infanta Elena e dos dois filhos desta.
Nascida em 13 de junho de 1965 em Madri e apaixonada por esportes, especialmente pela vela, Cristina conheceu Urdangarin nos Jogos Olímpicos de Atlanta de 1996, quando ele ganhou a medalha de bronze com a equipe espanhola de handebol.
"Ela é muito competitiva e obstinada", disse certa vez o escritor Andrew Morton, biógrafo de Lady Di, no livro "Ladies of Spain. Sofía, Elena, Cristina e Letizia: entre o dever e o amor" (tradução literal), afirmando que foi Cristina que tomou a iniciativa de cortejar Urdangarin.
O casal tem quatro filhos, nascidos entre 1999 e 2005: Juan Valentín, Pablo Nicolás, Miguel e Irene.
Em 2009, a família se mudou para Washington, onde Urdangarin foi nomeado conselheiro da gigante espanhola das telecomunicações Telefónica.
Foi na capital americana que eles foram surpreendidos pelo escândalo Nóos, no final de 2011, e em agosto de 2012 a família voltou a Barcelona para viver em um luxuoso palacete do bairro Pedralbes, colocado à venda e agora embargado pela metade pela justiça para que Urdangarin devolva os recursos desviados.
"O aumento de sua fortuna pessoal, tudo isso não pode ser ignorado por uma cônjuge que está muito unida a seu marido", considerou a escritora Pilar Urbano, autora de vários livros sobre a Família Real. O casal é proprietário da empresa Aizóon, que pode não passar de uma empresa de fachada.