O governo do Iraque anunciou que as forças de segurança dissolveram nesta segunda-feira (30/12) o maior acampamento de opositores sunitas do governo iraquiano.
Dez pessoas teriam morrido e outras 30 ficaram feridas nos confrontos registrados durante a ação, mas o governo não falou de mortes.
A ação policial provocou uma onda de confrontos em Ramadi, onde mesquitas convocavam seus fiéis para uma guerra santa.
Como consequência do fim do acampamento, quarenta e quatro deputados iraquianos apresentaram sua demissão. A entrega dos cargos também é uma reação à prisão, no último sábado, de um político sunita.
Os parlamentares anunciaram suas demissões numa coletiva de imprensa, reivindicando "a retirada do exército" e a "libertação do deputado Ahmed al-Alwani".
Os episódios de violência podem aumentar a indignação da população sunita - minoria no Iraque - que há um ano protesta contra as discriminações feitas pelo governo central.
"A polícia conseguiu dispersar todas as tendas que estavam no local e reabrir a estrada que estava bloqueada", informou Ali Moussawi, porta-voz do premier iraquiano, Nouri al-Maliki.
A operação foi realizada "sem nenhuma morte, depois que a Al-Qaeda e seus membros conseguiram fugir do campo", acrescentou Moussawi, explicando que os integrantes da organização estão sendo procurados na cidade.
Nas proximidades do local onde os manifestantes estavam acampados, em Ramadi, cerca de 130 km de Bagdá, um jornalista da AFP viu o corpo de uma pessoa morta e outras que ficaram feridas durante os confrontos.
O repórter não conseguiu chegar até o acampamento, mas constatou que um grande número de policiais foi enviado ao local. Ainda segundo o jornalista da AFP, helicópteros atiravam enquanto sobrevoavam a zona.
Um pouco mais cedo, o canal de televisão estatal Iraqiya anunciou que a operação ocorreu após um acordo firmado entre as forças de segurança, líderes religiosos e chefes tribais.
O canal citou o chefe da polícia da província de Anbar - da qual Ramadi é a maior cidade - afirmando que as forças de segurança encontraram dois carros-bomba e outros explosivos no local.
O acampamento foi instalado há um ano no meio da estrada que liga Ramadi a Bagdá e contava com uma grande estrutura para abrigar dezenas de tendas.
Após os confrontos provocarem indignação, as mesquitas de Ramadi chamaram os fiéis a "participar da jihad", a guerra santa. Dois carros das forças de segurança foram incendiados. Outra viatura foi tomada por um grupo de homens armados, segundo um jornalista da AFP.
Este acampamento, classificado pelo premiê xiita Nouri al-Maliki de "Quartel-general da Al-Qaeda", foi instalado no início de um movimento de contestação da comunidade sunita. O estopim para o movimento foi a prisão, no final de de dezembro de 2012, dos seguranças do então ministro das Finanças, Rafeh al-Issawi - um influente político sunita -, acusados de terrorismo.
No último sábado, Ahmed al-Alwani, um deputado sunita conhecido por apoiar o movimento anti-governo, foi preso enquanto estava em casa, na cidade de Ramadi.
A indignação do povo sunita é um fator crucial para a escalada da violência no Iraque, estimulando o levante de grupos rebeldes.
Assolado por uma onda de violência que não era vista desde 2008, quando o país se viu em meio a uma guerra religiosa, o Iraque já conta com mais 6.750 pessoas mortas neste ano.
Nesta segunda-feira, foram registradas pelo menos nove mortes em todo o país.