Os bombardeios da aviação síria contra áreas controladas pelos rebeldes em Aleppo (norte) causaram a morte de pelo menos 300 pessoas em oito dias, incluindo 87 crianças, a um mês de uma conferência de paz para buscar uma solução política ao conflito no país.
A ofensiva coincide com um avanço das tropas do regime sírio, que se beneficia, segundo os analistas, do silêncio internacional. "De 15 a 22 de dezembro, 301 pessoas morreram, incluindo 87 crianças, 30 mulheres e 30 rebeldes", afirmou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), que se baseia em uma ampla rede de fontes civis, médicas e militares por todo o país.
Nesta segunda-feira vários "barris de explosivos" caíram sobre pelo menos quatro bairros do leste da antiga capital econômica da Síria e sobre três localidades da província, informou o OSDH. A oposição síria e várias ONGs acusam o regime de Bashar al-Assad de usar "barris de explosivos" cheios de TNT em ataques a essas áreas rebeldes para minar o moral da população.
Uma fonte de segurança de Damasco explicou à AFP que o Exército recorre aos bombardeios aéreos nessa província para apoiar suas tropas em terra, já que as forças terrestres não contam com meios para lançar uma ofensiva em Aleppo e que o grande número de vítimas se deve às posições rebeldes estarem entre civis.
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Apesar de o regime não reconhecer oficialmente o uso desses barris, uma fonte de segurança afirmou à AFP que essa técnica é mais barata do que a utilização de mísseis. Aleppo, uma das principais frentes do conflito sírio, está dividida, desde o verão de 2012, entre setores controlados pelos rebeldes e pelo Exército.
O Exército sírio conta nesta região, próxima ao Líbano, com a valiosa ajuda do movimento xiita libanês Hezbollah. A oposição síria pede desde o começo do conflito a implantação de uma zona de exclusão aérea, mas a reivindicação é ignorada pelos países ocidentais que apoiam a coalizão que combate o presidente Bashar al-Assad.
"Já não há linhas vermelhas"
Segundo os analistas, o regime não se preocupa com a reação da comunidade internacional.
"Já não há linhas vermelhas, agora há luz verde", afirmou à AFP, Salman Shaij, diretor do Brookings Doha Center, referindo-se à "linha vermelha" que o presidente americano, Barack Obama, estabeleceu depois do uso de armas químicas pelo Exército.
Os Estados Unidos recuaram na última hora em sua intenção de responder com uma operação armada a um ataque com armas químicas em agosto, pelo qual o regime foi acusado. Para Shaij, o discurso dominante dos países ocidentais é que o regime de Assad é o menos pior dos cenários frente aos jihadistas, dos quais uma parte vem da Europa.
"O regime bombardeia porque pode se permitir. Ninguém o detém", destacou. Os êxitos do Exército sírio nas últimas semanas permitirão ao regime sírio, segundo Shaij, se apresentar em uma posição de força na conferência de paz de Genebra 2 - que começará no dia 22 de janeiro na cidade suíça de Montreaux -, enquanto a oposição está cada vez mais frágil.