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Chile, agora é o momento de fazer mudanças, diz Bachelet após vitória

Em um dia marcado pela baixa participação de eleitores, Bachelet garantiu seu retorno ao palácio presidencial de La Moneda



Hora de mudanças

Em seu primeiro discurso como futura presidente, Michelle Bachelet afirmou: "Chile, agora, por fim, é o momento de fazer as mudanças". Ao lado de seus filhos e sua mãe, Angela Jeria, ela falou para milhares de simpatizantes em um cenário montado na avenida Alameda de Santiago. Durante a campanha, Bachelet prometeu um ambicioso programa de reformas, com uma reforma tributária para arrecadar 3% do PIB, educação gratuita universitária e uma nova Constituição.

A nova presidente afirmou que se trata de um momento histórico para o país, que "decidiu que é o momento de fazer profundas transformações" como a educação universitária gratuita, a reforma tributária ou a nova Constituição que ela propõe.

[SAIBAMAIS]Bachelet também mencionou os estudantes que, em 2011, realizaram os maiores protestos no Chile desde a retomada da democracia, exigindo educação pública gratuita e de qualidade. "O lucro não pode ser o motor da educação, a educação não é uma mercadoria, os sonhos não são um bem de mercado, é um direito de todos", disse a socialista. "Não vai ser fácil, mas, quando foi fácil mudar o mundo para melhor?", questionou Bachelet diante de seus seguidores.

A socialista lembrou todos aqueles que morreram na ditadura, e prestou uma homenagem especial a seu pai, que "não deixou de me acompanhar um só dia da minha vida", disse a presidente.

Um dia com baixa participação

Durante todo o dia, em grande parte dos colégios eleitorais, quase não havia filas, em um dia com altas temperaturas em Santiago, constatou a AFP. Por outro lado, bairros comerciais estavam cheios, a dez dias do Natal. Analistas previam que a vitória quase certa de Bachelet, o clima natalino e a estreia do voto voluntário, levariam menos pessoas às urnas em relação ao primeiro turno, quando 6,6 milhões de eleitores votaram de um total de 13,4 milhões.

Assim, essas podem ser as eleições com menor participação de eleitores desde o retorno à democracia em 1990. Essas são as primeiras eleições presidenciais realizadas em segundo turno sob a lei do voto voluntário.

No bairro Meiggs, um setor popular onde podem ser encontrados artigos a baixo preço, as pessoas se atropelavam para comprar presentes ou decoração natalina, alheias ao processo eleitoral. "Hoje não fui votar porque já fui uma vez. Para que vou votar duas vezes, se sei que vai dar Michelle? (...) Não valia a pena", explicou à AFP, Gustavo Huerta, de 60 anos, enquanto fazia suas compras.

Nesse contexto, se intensificaram os pedidos para votar. "Meu pedido essencial é pela participação, por expressar sua opinião no voto e, dessa forma, fazer as mudanças que o Chile quer. Com ceticismo não acontecem as reformas que necessitamos", disse Bachelet, após votar em um colégio no leste de Santiago, vestida com um tailleur azul celeste e calça preta. "Hoje é um dia muito importante, estamos muito otimistas. Peço às pessoas que saiam para votar, é muito importante que as pessoas que querem um bom país vão votar", afirmou Matthei.

O presidente Sebastián Piñera também fez o seu pedido. "O voto ser voluntário não significa que não seja um compromisso. Se um chileno não quer votar está demonstrando falta de carinho com seu país", disse ele.

Uma disputa inédita

Além das propostas de Matthei e Bachelet, a disputa que protagonizaram foi inédita e dramática, pela história trágica que envolve suas famílias. É a primeira vez que duas mulheres se enfrentaram nas urnas na América Latina. Além disso, elas compartilham um passado comum.

Bachelet e Matthei são filhas de generais da Força Aérea que foram muito amigos e, quando crianças, brincavam juntas, mas o golpe de Estado de Augusto Pinochet, em 1973, determinou a vida de ambas. Enquanto o general Alberto Bachelet foi preso e torturado até a morte por se manter leal ao governo de Salvador Allende, Fernando Matthei formou a junta militar do regime.

O Chile que espera a nova presidente

Bachelet assumirá o cargo dia 11 de março de 2014 e governará até 2018. Receberá uma economia que desacelera, após um crescimento este ano de 4,2%. Menores investimentos em mineração, devido a uma queda internacional no preço das matérias-primas, impactarão o principal produtor mundial de cobre.

No nível social, deverá enfrentar uma série de demandas sociais, lideradas pelos estudantes, que já anteciparam que farão mobilizações em 2014 por educação pública, gratuita e de qualidade.