Pretoria - Dezenas de milhares de sul-africanos se dirigiram nesta sexta-feira (13/12) a Pretória para homenagear seu herói, Nelson Mandela, e vê-lo antes que seu corpo seja levado a Qunu (sul), onde será enterrado no domingo.
"Vê-lo pela última vez me faria muito feliz", comentava Tieho Montspai, que esperava com sua esposa desde a 01h00 (21h00 de Brasília) diante da sede da presidência, onde o corpo do líder da luta contra o apartheid foi colocado pelo terceiro dia consecutivo. No meio da manhã, 50.000 pessoas já haviam lotado as quatro zonas de espera, formando filas impressionantes de vários quilômetros.
Às 10h30 (06h30 de Brasília), o governo pediu "à população que não venha mais". "Não podemos garantir que cada pessoa presente nas filas de espera nos diferentes locais possa ter acesso ao Union Buildings", ressalta um comunicado. "Não nos dizem nada. Não estou certo de chegar", afirmou Jules Mbaya, morador de Johannesburgo. "Gostaria de ver o corpo daquele que lutou por nós, pela liberdade. É uma honra", acrescentou.
Na quinta-feira, as autoridades precisaram fechar as portas da presidência, embora milhares de pessoas seguissem esperando. Alguns como Stanley Luvhimbe, que dirigiu 450 quilômetros para ver seu herói, decidiram dormir ali mesmo. "É uma ocasião única. Não voltaremos a nos ver nunca mais", explicou. Outros, como Ompelege Majafa, de 27 anos, dirigiram em plena noite. "É um momento que não esqueceremos nunca. Estamos aqui por Tata", declarou.
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A partir de quarta-feira, as homenagens a Mandela começaram a ser impregnadas por uma tristeza que contrastou com o tom alegre de celebração dos dias anteriores. "Foi extraordinário estar aqui. Mas tenho o coração partido", declarou ao sair do Union Buildings Paulus Mefadi, um soldado de 44 anos que marchou perante Nelson Mandela quando o líder sul-africano prestou juramento como presidente, em 1994.
Na manhã de domingo, o país vai parar nas cerimônias do enterro de Mandela em Qunu (sul), o povoado de sua infância, primeiro na presença de personalidades e depois na mais estrita intimidade. Diversas redes de lojas já anunciaram que permanecerão fechadas. A primeira parte da cerimônia será realizada ante 5.000 pessoas, entre elas presidentes estrangeiros, e será transmitida pela televisão.
Posteriormente, será realizado o enterro, que estará "reservado rigidamente à família", explicou Phumla Williams, uma porta-voz do governo. "A família deseja que o enterro seja um assunto familiar, não quer que seja televisionado, não quer que as pessoas vejam o enterro", que contará com a presença da família e de poucas personalidades.
Os rituai tradicionais da etnia Xhosa, incluindo o sacrifício de um boi, protagonizarão o enterro de Mandela, no qual estarão ao redor do túmulo os anciões do clã Thembu, ao qual pertence o primeiro presidente negro da África do Sul. "Um funeral é uma cerimônia complicada que envolve se comunicar com os ancestrais e permitir que o espírito da pessoa que se foi descanse", declarou o chefe Jonginyaniso Mtirara, do clã Thembu.
Há uma semana, muitas pessoas trabalham neste pequeno povoado para garantir o bom desenvolvimento da cerimônia na propriedade de Nelson Mandela, que mandou construir uma casa em Qunu quando foi libertado, em 1990, após 27 anos nas prisões do regime racista. O corpo de Mandela será levados de avião no sábado de Pretória à província de Cabo Oriental. Se o tempo permitir, a aeronave aterrissará no pequeno aeroporto de Mthatha e será realizada uma procissão até Qunu. bur-chp/clr/msv/it/ma/fp