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Uruguai deve ser o primeiro país a legalizar a produção e venda da maconha

O polêmico projeto de lei, defendido pelo presidente uruguaio e aprovado pela Câmara dos Deputados, será votado pelo Senado nesta terça-feira

Montevideu ; O Uruguai deve se converter, nesta terça-feira (10/12), no primeiro país a legalizar e a regulamentar a produção, a venda e o consumo da marijuana (maconha). O polêmico projeto de lei, defendido pelo presidente uruguaio Jose ;Pepe; Mujica e aprovado pela Câmara dos Deputados, será votado pelo Senado, onde o governo tem 17 dos 30 legisladores.

[SAIBAMAIS]Vinte e oito mil uruguaios ; 5% da população entre 15 e 65 anos ; fumam um cigarro de maconha por dia. Segundo a Junta Nacional de Drogas do Uruguai, 22 toneladas de marijuana são vendidas anualmente no Uruguai ; o dobro do ano passado. Consumir drogas (mesmo as mais fortes, como a cocaína ou o crack) não é considerado crime no Uruguai. Foi permitido, por decreto, há 40 anos. A lei só proíbe comprar e vender. ;Essa contradição beneficia os narcotraficantes. Como o consumo é permitido e o comércio é proibido, criamos um mercado cativo para o crime organizado, que comercializa a droga sem qualquer controle;, explicou, em entrevista à Agência Brasil, o deputado governista Julio Bango, autor do projeto. Com a venda de maconha, os traficantes faturam US$ 40 milhões anuais.



Segundo Bango, o governo tinha duas opções para combater o narcotráfico: proibir o consumo de maconha (algo que dificilmente conseguiria implementar) ou legalizar e regulamentar o comércio. ;É melhor que o Estado assuma o controle e coloque limites, do que os narcotraficantes ditem as regras;. No Uruguai, a maconha é a quarta droga mais consumida, depois do álcool, do tabaco e dos psicofármacos. ;Nenhuma das quatro faz bem à saúde e a ideia não é promover o consumo da maconha;, explicou. ;O que queremos é justamente regulamentar o comércio da maconha, como fazemos com as outras três;. Com a nova lei, qualquer pessoa residente no Uruguai, maior de 18 anos, terá direito a comprar até 40 gramas de maconha por mês na farmácia ; a preços inferiores aos do narcotraficantes. Mas precisa se registrar, se quiser ter acesso à droga legal. ;Sou favorável à lei, mas não vou preencher uma ficha, com nome e sobrenome, dizendo que fumo maconha;, disse Cristian (que não quis dar seu sobrenome). ;Tenho medo de que, se meu chefe souber, me demita. Há muita gente contra essa lei no Uruguai;.

Uma recente pesquisa, feita pela empresa Cifra, mostra que 63% dos uruguaios são contra. Nas ruas de Montevideu, as opiniões estão divididas. ;Sou contra o consumo da maconha, mas acho uma boa política legalizar o comércio;, disse, em entrevista à Agência Brasil, Estela Martinez, mãe de dois adolescentes. ;Dos males, fumar maconha é o menor. Mais perigoso é ir comprar a droga em uma boca de fumo, onde devem vender cocaína e crack e todo tipo de porcaria;, acrescentou. A farmacêutica Ana Maria Modena ; como muitos de seus colegas de trabalho ; critica a lei. ;É um absurdo vender uma droga que sabemos que faz mal à saúde, em uma farmácia, onde vendemos remédios para tratar doenças;, explicou. Com a nova legislação, o governo vai outorgar licenças para o cultivo de até 40 hectares de terra de maconha ; o suficiente para o consumo doméstico. As plantas serão usadas para investigação científica, para fins medicinais, para a indústria e para o consumo.

Os uruguaios também terão o direito de cultivar a maconha em casa ; mas podem ter, no máximo, seis plantas. Para a deputada oposicionista Veronica Alonso, o Uruguai comete um erro ao aprovar a nova legislação. ;O próprio presidente Mujica disse que estamos fazendo um experimento. Mas é um experimento que, se der errado, vai prejudicar os uruguaios;, disse a deputada. ;E pode prejudicar também os paises vizinhos, como o Brasil e a Argentina, que têm políticas diferentes de combate ao narcotráfico. Combater o narcotráfico só é possível se fizermos um esforço conjunto e regional. Não podemos adotar políticas unilaterais;, acrescentou. Mujica foi aplaudido por ex-presidentes da região. Ele pediu ajuda a outros governos para levar adiante seu ;experimento;. Segundo Mujica, até agora, as poíiticas de repressão não deram resultado ; melhor tentar um novo caminho.