As forças de ordem ucranianas retiraram nesta segunda-feira (9/12) os manifestantes que ocupavam a sede do governo e lançaram uma ofensiva contra o partido da opositora Yulia Timoshenko, aumentando a tensão entre o poder e a oposição.
No dia seguinte a uma manifestação que reuniu centenas de milhares de pessoas em Kiev, as autoridades reagiram violentamente à mobilização das ruas, ofuscando a aparente abertura de um diálogo anunciado no início do dia.
O presidente Viktor Yanukovich anunciou que apoia uma série de contatos com a oposição. Mas os opositores se mantêm irredutíveis, exigindo a saída do chefe de Estado após a sua rejeição em assinar um acordo de associação com a União Europeia, no final de novembro.
Mas no final da tarde, as forças de ordem partiram para a ação, depois de o procurador geral Viktor Pchonka ter feito um alerta aos manifestantes para que "não coloquem a paciência das autoridades à prova".
[SAIBAMAIS]Dezenas de manifestantes, que bloqueavam a sede do governo há uma semana, foram obrigados a recuar, empurrados pela polícia de choque. Nenhum confronto foi registrado, enquanto deputados presentes pediam aos opositores que atendessem aos pedidos das forças de ordem.
O Batkivchtchina, partido de Timoshenko, uma das líderes da Revolução Laranja de 2004 e ex-primeira-ministra, detida por abuso de poder após a chegada à liderança de Yanukovich, denunciou uma invasão das forças especiais.
A polícia assegurou que não havia realizado qualquer operação contra a organização, organizada, segundo o partido, por policiais com armas automáticas.
"Todos os nossos HDs foram roubados", denunciou o líder do partido, Arseni Iatseniuk, acusando as forças de ordem de terem quebrado outros materiais.
O site do partido estava fora do ar esta noite, constatou a AFP. No domingo, os serviços especiais anunciaram a abertura de uma investigação por tentativa de tomada ilegal do poder.
"Pressão psicológica"
O desbloqueio da sede do governo provocou a ira da oposição. "Estamos protestando de forma pacífica", reagiu o deputado opositor Igor Chvaika, do partido ultranacionalista Svoboda.
"Mas se o presidente e a polícia passarem dos limites, vamos reagir proporcionalmente", alertou. Mais cedo, a tensão já era grande com a chegada de um grande número de policias equipados com capacetes e escudos para bloquear os acessos à avenida Khrechtchatik, que leva à Praça da Independência.
"O poder tenta exercer uma pressão psicológica, mas as pessoas se reuniram aqui e vão continuar aqui", denunciou um dos líderes da oposição, o boxeador Vitali Klitschko.
O embaixador da UE na Ucrânia, Jan Tombinski, advertiu as autoridades para o risco "do uso injustificado da força da polícia de choque contra manifestantes pacíficos".
O presidente parecia ter ouvido os muitos apelos à normalidade lançados por países ocidentais e chegou a anunciar nesta manhã que se reuniria com três ex-presidentes do país para discutir a onda de contestação.
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Leonid Kravchuk, o primeiro presidente da Ucrânia independente, Leonid Kuchma, de quem Yanukovich foi primeira-ministra, e Viktor Yuchtchenko, que venceu as eleições após a Revolução Laranja, haviam expressado na semana passada apoio aos manifestantes.
Este encontro deveria lançar as bases de negociações entre o poder e a oposição para "encontrar um compromisso", segundo um comunicado da presidência. A iniciativa coincide com a chegada em Kiev da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, que tem a missão de propor uma conciliação visando "à busca por uma solução política" para a crise.
Já o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, deve receber na quarta-feira o líder opositor Vitali Klitschko, um campeão de boxe que é hoje um dos principais nomes da política no país.
A mobilização, sem precedentes desde a Revolução Laranja, foi intensificada pela violência da polícia contra os jovens manifestantes em 30 de novembro, e pela visita do presidente ucraniano à Rússia na sexta-feira.
A oposição acredita que Yanukovich prepara em segredo a entrada da Ucrânia, em grandes dificuldades econômicas e financeiras, na União aduaneira criada por Moscou com as ex-repúblicas soviéticas.
No domingo, entre 250.000 e 300.000 pessoas lotaram a Praça da Independência, local emblemático da Revolução Laranja pró-ocidental, assim como as ruas próximas.
O protesto terminou simbolicamente com 30 manifestantes com os rostos cobertos derrubando uma estátua de Lênin de 3,5 metros na praça central de Kiev. Nesta segunda, centenas de manifestantes continuam a ocupar o centro da cidade, apesar do frio e da neve.
"É impossível voltar atrás", afirmou Volodimir Kiblik, que viajou à capital há duas semanas procedente da cidade de Znamenka, no centro deste país de 46 milhões de habitantes.