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Presidente ucraniano continua sob pressão após reunião com Putin

A oposição convocou uma nova manifestação para domingo

Kiev - O presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, seguia neste sábado sob a pressão de seus opositores pró-europeus após uma reunião na sexta-feira com o presidente russo Vladimir Putin para falar de um "acordo estratégico" entre os dois países.

A oposição, que convocou uma nova manifestação para domingo em Kiev, considera que a aproximação com a Rússia e a possível adesão da Ucrânia à união aduaneira de ex-repúblicas soviéticas promovida por Moscou seriam uma catástrofe para o país.

[SAIBAMAIS]Segundo Edward Lucas, jornalista da revista britânica The Economist, Yanukovich e Putin acordaram na sexta-feira em Sochi um "acordo estratégico" pelo qual a Ucrânia receberá bilhões de dólares em créditos e que inclui a sua entrada na união aduaneira.

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No entanto, uma fonte do poder ucraniano consultada pela AFP desmentiu que estes acordos tenham sido assinados e afirmou que os dois líderes só conversaram.

Segundo Dimitri Peskov, porta-voz do presidente russo, a adesão de Kiev à união aduaneira não foi um dos temas da reunião. A presidência ucraniana também não forneceu detalhes da reunião.

"Consequências trágicas"

Os rumores deste possível acordo com a Rússia foram recebidos com preocupação nas fileiras da oposição, que protesta há duas semanas nas ruas após a negativa de Yanikovich de assinar um acordo de cooperação com a União Europeia.

"A manifestação de domingo pode terminar de maneira trágica se (Yanukovich) tiver vendido a Ucrânia", disse Arseni Yaseniuk, um aliado da opositora detida Yulia Timoshenko. "Se for certo, é uma catástrofe política e econômica", acrescentou.

Sinal da tensão crescente no país, o governo enviou na madrugada deste sábado as forças antidistúrbios para proteger a sede da televisão na capital.

A oposição espera reunir no domingo centenas de milhares de manifestantes na Praça da Independência, o local emblemático da Revolução Laranja pró-europeia de 2004.

No domingo passado, entre 200.000 e 500.000 pessoas, segundo as fontes, protestaram na praça depois de terem sido desalojadas à força na sexta-feira pela polícia, em uma operação que deixou dezenas de feridos, muitos deles estudantes.

Neste sábado cerca de mil pessoas protestaram no mesmo local, também conhecido pelo nome de Maidan.

"Yanukovich está disposto a assinar o que for, já não lhe restam aliados no mundo civilizado", declarou à AFP Olexandre Rybalko, um manifestante da região de Vinitsia (200 km a sudoeste de Kiev).

O presidente ucraniano fez uma escala na Rússia quando voltava de uma visita à China, que não cancelou, apesar dos protestos no país.

"Agora só pensa no dinheiro", afirmou em Kiev Maritshka Ostrovska, uma manifestante de Lutsk (oeste).

A Ucrânia está há mais de um ano em recessão e tem um enorme déficit público que pode levar o país à quebra, segundo analistas e investidores, que acreditam que Moscou pode abaixar o preço do gás que vende ao país se o governo ucraniano desistir de se aproximar da Europa.