O Exército francês lançou nesta sexta-feira (6/12) uma operação militar na República Centro-Africana, com a mobilização de patrulhas na capital, Bangui, que parecia uma cidade fantasma após os massacres da véspera.
"A operação começou e as forças francesas presentes na República Centro-Africana mobilizaram homens em Bangui", afirmou o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, à rádio RFI.
Além disso, soldados franceses entraram em ação na quinta-feira (5/12) de manhã contra um grupo de homens armados que atirava em civis perto do aeroporto de Bangui, matando vários agressores que estavam em um veículo, segundo informou o Estado-Maior.
Nas ruas de Bangui, sob forte chuva, onde a circulação de veículos havia sido suspensa na quinta-feira, não havia uma grande presença de tropas francesas nesta manhã.
Milhares de moradores, temendo novos episódios de violência, se reuniram no início da tarde nos arredores do aeroporto da capital, enquanto a Cruz Vermelha recolhia dezenas de cadáveres espalhados pelas ruas.
Vindos dos bairros Boeing e Boy-Rabe, vizinhos ao aeroporto, onde o Exército francês e a força africana mantêm suas bases, os moradores foram mantidos afastados das instalações por arames farpados.
Como a cada dia, patrulhas de veículos leves e blindados, circulavam nas principais avenidas da capital.
Tropas da força africana (Misca) também foram mobilizadas em suas posições habituais.
Em contrapartida, ao contrário do dia anterior quando patrulharam a cidade durante todo o dia, os veículos lotados de soldados centro-africanos eram poucos.
Rajadas esporádicas de armas automáticas foram ouvidos durante a madrugada em vários bairros, segundo os habitantes entrevistados pela AFP.
"Não sabemos por que eles atiravam. Não ouvimos nada sobre incidentes", explicou um morador do bairro de Ben Zvi.
Não há registros de possíveis vítimas dessas trocas de tiros, que pararam ao amanhecer.
Apesar do fim do cessar-fogo às 06h00, as ruas permaneciam vazias durante a manhã e quase todas as lojas não estavam abertas.
Depois da aprovação da intervenção na quinta-feira pelo Conselho de Segurança da ONU, o presidente francês François Hollande anunciou uma ação militar "imediata" no país, que vive uma situação de caos desde a queda do presidente François Bozizé, em março.
"Uma companhia chegou a Libreville (capital do Gabão) ontem à noite e hoje (sexta-feira) um destacamento de helicópteros estará na região", afirmou o ministro Le Drian.
Uma companhia do Exército francês tem em média 150 homens.
A missão dos militares franceses, que apoiam as forças africanas já presentes no país, é manter "a segurança mínima para que possibilitar uma intervenção humanitária, algo que hoje não é possível", disse o ministro.
De acordo com Le Drian, a meta é "levar segurança às ruas e aos principais itinerários para permitir que as pessoas possam chegar ao hospital".
Quinta-feira, antes do amanhecer, violentos confrontos eclodiram no norte da capital.
"Grupos armados lançaram uma ofensiva contra a cidade. As forças da Seleka (antiga rebelião, hoje no poder) reagiram ao ataque", segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Até o momento, 92 mortos e 155 feridos foram registrados no hospital comunitário de Bangui, segundo os MSF.
"Hospital comunitário: 155 feridos em dois dias, 92 mortos no necrotério", indica uma breve mensagem da MSF enviada à AFP nesta sexta-feira.
A ONG, que tem unidade médica e cirúrgica neste estabelecimento, não soube esclarecer se os corpos deixados nesta manhã no necrotério eram de vítimas mortas durante esta madrugada, ou cadáveres abandonados nas ruas quinta-feira após os assassinatos.
Na quinta, 54 corpos foram encontrados na sala de orações e no pátio interno de uma mesquita do bairro PK5 de Bangui, com sinais de ferimentos causados por facadas e tiros.
Nas ruas próximas, os jornalistas da AFP contabilizaram 25 corpos abandonados, e no hospital comunitário de Bangui, os MSF haviam contabilizado mais 50 mortos ao final do dia.
Vários bairros atingidos pela violência permanecem inacessíveis nesta sexta-feira devido a falta de segurança, o que faz crer um número maior de vítimas do massacre.
A República Centro-Africana está mergulhada no caos desde que a coalizão rebelde Seleka, majoritariamente muçulmana, derrubou o presidente François Bozizé em março.
Um governo de transição liderado por um ex-rebelde perdeu depois o controle do país, e grupos rivais cristãos e muçulmanos travam desde então pesados confrontos.
O temor das atrocidades provocou o êxodo de dezenas de milhares de pessoas.