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O dia em que Nelson Mandela visitou a Universidade de Brasília

Em 1991, Mandela veio à Brasília para receber o título de Doutor Honoris Causa da instituição



Passados apenas seis meses do fim de sua prisão ; que durou três sombrias décadas ;, Nelson Mandela pisou em solo brasiliense. Na capital brasileira, foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB). O homem que derrotou o apartheid e conduziu a nação sul-africana na luta contra o preconceito racial recebeu a homenagem da instituição em 5 de agosto de 1991. Sete anos depois, Mandela fez a segunda visita como presidente sul-africano. Foi recebido no Palácio da Alvorada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso e se encontrou com uma comitiva do Partido dos Trabalhadores, liderada por Lula, José Dirceu e Cristovam Buarque.

A data permanece viva na memória de muitos funcionários. ;Tratava-se de um homem que tinha dedicado toda a vida à causa humanitária;, lembrou a professora Adalgisa Vieira do Rosário, do Departamento de História, responsável pela ideia de homenagear Mandela. ;O Consuni (Conselho Universitário) acatou imediatamente;, recordou.

Com cinco dias de duração, a visita ao Brasil foi feita na retomada do processo eleitoral da África do Sul. A viagem teve o objetivo de aumentar o apoio internacional para a candidatura do primeiro negro ao cargo de presidente e de reforçar o pedido para que o então governo de Fernando Collor mantivesse as sanções ao país africano.

A ideia da comitiva de Mandela era pressionar as nações estrangeiras a continuarem com as restrições até que as divisões entre negros e brancos deixassem de existir e que todos tivessem o direito a escolher os próprios representantes. A vinda do líder gerou muita expectativa entre os brasileiros. Ao chegar a Brasília, o sul-africano foi recebido por Collor, que o condecorou com o grau de Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco, honra destinada às pessoas que estimulam práticas virtuosas.

Acompanhado da então esposa Winnie Madikizela-Mandela, Madiba ; como é conhecido em seu clã ; esbanjou simpatia com o tradicional sorriso que o fez famoso no mundo todo. ;A voz que vinha daqui (do Brasil) chegava forte e clara. Diziam que estavam comprometidos na luta contra o apartheid. Isso me dava forças;, declarou Mandela. O presidente Collor respondeu: ;É uma honra apertar a mão do homem que será o símbolo do nascimento de uma nova África do Sul, que virá fortalecida e, principalmente, racionalmente integrada;, disse.

Na UnB, a condecoração que deveria ser feita no auditório da Faculdade de Ciências de Saúde, com capacidade para receber 500 pessoas, teve de ser alterada devido à grande quantidade de alunos e professores que se reuniram para receber Mandela. O local ficou tão cheio que o próprio líder negro não conseguiu entrar. Com isso, por motivos de segurança, o evento teve de ser transferido: aconteceu ao ar livre, entre os blocos da Faculdade de Medicina. ;O amor e a solidariedade nos impediram de realizar a cerimônia no local apropriado. Eu me orgulho disso;, falou ao público.

Efervescência

;Na hora da cerimônia, fomos atropelados por um verdadeiro tsunami;, relembrou no livro Em tempos de pensamento inquieto o ex-professor José Coutinho, chefe de gabinete do então reitor, Antônio Ibanez. O campus tinha sido tomado por uma multidão que queria ver de perto o carismático líder sul-africano.

Ibanez declarou à época ao Correio que, apesar do imprevisto, o encontro foi um sucesso. ;Quando percebemos que aqui (na UnB) seria o único lugar em Brasília que o público em geral poderia ver Nelson Mandela, não havia mais tempo de trocar o local;, explicou. Durante o discurso, Madiba exaltou a função da universidade em ;perseguir o desenvolvimento, os valores, as habilidades e as atitudes na luta pela democracia;.

Então professor da UnB, o atual reitor, Ivan Camargo, lembra com carinho da passagem do importante visitante pelo campus. ;Recordo com muita clareza o clima efervescente daqueles dias. A vinda de Mandela confirmava o compromisso da universidade com as causas sociais e humanitárias do Brasil e do mundo;, afirmou. Ao fim da viagem pelo país ; que incluiu passagens pelo Rio de Janeiro, pelo Espírito Santo, por São Paulo e pela Bahia ;, o ícone da luta contra o apartheid declarou: ;Quase fomos mortos de tanto amor;.



Com Agência UnB