Cidade do Vaticano - O papa Francisco anunciou nesta quinta-feira (5/12) a criação de uma comissão especial para combater o abuso sexual de crianças na Igreja Católica e dar assistência pastoral às vítimas, após a recomendação de um conselho de cardeais convocado para aconselhá-lo. O anúncio foi feito pelo cardeal americano Sean O;Malley, arcebispo de Boston e um dos oito membros do conselho, que disse que a composição precisa da nova comissão será anunciada "em um futuro próximo".
O;Malley afirmou que o conselho sugeriu o novo comitê na quarta-feira e Francisco o aprovou nesta quinta-feira, acrescentando que a iniciativa também estava em conformidade com a abordagem de tolerância zero do Papa Emérito Bento XVI. "O Santo Padre decidiu criar uma comissão para a proteção das crianças", disse O;Malley.
O comitê pode criar códigos de conduta profissional para os clérigos, orientações para os funcionários da Igreja em cada país sobre como lidar com a má conduta e verificar se há candidatos a sacerdotes, disse O;Malley. "A ênfase até agora tem sido mais sobre os procedimentos legais e menos sobre a resposta pastoral", explicou, acrescentando, no entanto, que a comissão também buscará formas de trabalhar em conjunto com as autoridades civis contra o abuso.
"Os cursos de formação têm ajudado muito na prevenção e na identificação dos sinais de perigo", declarou. "A tarefa será estudar a situação e fazer sugestões para o Santo Padre", acrescentou. O Vaticano declarou que seus promotores de Direito Canônico estão investigando milhares de supostos casos de abuso, mas não está claro quantos foram confirmados e quais medidas foram tomadas contra os culpados.
"As responsabilidades da Congregação para a Doutrina da Fé não vão mudar", disse o cardeal, referindo-se ao departamento do Vaticano responsável por investigar os abusos. Abusos e acobertamentos no âmbito da Igreja começaram a vir à tona há uma década nos Estados Unidos e desde então muitas outras revelações foram feitas - embora estas denúncias sejam provenientes, principalmente, de países ocidentais.
O Vaticano declarou na quarta-feira (4/12) que não pode responder às perguntas do Comitê das Nações Unidas para os Direitos da Criança sobre os abusos, explicando que não é responsável pelas ações de clérigos individuais, já que eles estão sujeitos às leis nacionais. Autoridades do Vaticano participarão de uma reunião do Comitê da ONU, em Genebra, no dia 16 de janeiro, e O;Malley declarou que "isso ajudará a Santa Sé a demonstrar sua vontade de contribuir". Os escândalos - muitos deles ocorridos há décadas - têm manchado a imagem da Igreja Católica Romana em todo o mundo e levaram a uma forte queda da confiança pública em países como Irlanda e Estados Unidos.