Bagdá - As relações entre sunitas e xiitas correm o risco de sofrer uma maior deterioração no Oriente Médio devido à guerra na Síria e as próximas eleições no Iraque, de acordo com analistas. O medo de que as relações entre as duas grandes correntes do Islã se agravem voltou a se acentuar com o duplo atentado, em 19 de novembro, contra a embaixada iraniana no Líbano, reivindicado por um grupo vinculado à rede terrorista sunita Al-Qaeda.
Inúmeros especialistas consideram que as dificuldades crescentes entre xiitas e sunitas são uma consequência da invasão americana no Iraque em 2003, que pôs fim ao regime do ditador sunita Saddam Hussein e instalou em seu lugar autoridades xiitas.
Uma divisão regional
Segundo os analistas, o atual estado das coisas também é consequência do assassinato do primeiro-ministro libanês sunita Rafik Hariri, em 2005, e da guerra na Síria. "O certo é que a divisão entre sunitas e xiitas aumentou desde 2005", explica Sahar al Atrache, especialista em questões do Líbano no centro de pesquisas International Crisis Group.
"Entre os xiitas, há uma espécie de temor, legítimo ou não, de que um Islã político dominado pelos sunitas se propague na região, principalmente desde a Primavera Árabe", explicou. "Isso contribuiu para as posições adotadas pelo Hezbollah (xiita libanês), Iraque e Ira sobre o tema sírio", acrescentou. A guerra síria, na qual o Hezbollah luta junto ao regime contra os rebeldes, já causou 120 mil mortos.
"O sectarismo aumentou claramente", afirma Omar Shakir, um ativista de Homs. "Nosso regime é um regime sectário. Forma as milícias compostas por combatentes de uma seita. E quando as pessoas veem as matanças cometidas pelo regime, também reagem de forma sectária, com o mesmo ódio com que se viram confrontadas". No Iraque, os diplomatas e as autoridades estão preocupadas ante o caráter que podem assumir as eleições legislativas de abril. Os partidos, motivados mais por divisões tribais do que pela ideologia, poderão prejudicar ainda mais as relações entre as comunidades, em um país que sai de uma guerra interconfessional (2006-2007).
"No momento, tudo que vi aponta para posições mais marcadas, e não mais moderadas", explica um diplomata ocidental que não quis se identificar. "As eleições restringem a flexibilidade, invés de aumentá-la. Cada um joga por sua equipe", resumiu.