Cairo - Dez membros do comitê responsável pela revisão da Constituição egípcia suspenderam nesta terça-feira (26/11) os trabalhos na assembleia após a prisão de 30 manifestantes no Cairo. Hoda al-Sadda, que tem uma cadeira no "Comitê dos 50", explicou ter suspendido suas atividades, junto a nove de seus colegas, após a prisão de 30 manifestantes que denunciavam a manutenção de um artigo autorizando os processos de civis diante de tribunais militares na nova Constituição.
[SAIBAMAIS]A lei também obrigada as organizações a informar as autoridades sobre suas manifestações até três dias antes. Devem fornecer coordenadas, localização e trajeto, assim como as reivindicações e as palavras de ordem que serão usadas. O Ministério do Interior poderá decidir pela proibição do ato, se considerar que representa "uma ameaça para a segurança", acrescentou Badawi. Segundo a lei, também ficam proibidos a realização de reuniões nos locais de culto e o início de manifestações na saída desses estabelecimentos. Tradicionalmente, no Egito, as passeatas islâmicas partem das mesquitas.
Recentemente, várias ONGs e a ONU pediram que as novas autoridades egípcias abandonassem a lei, acusando o governo de querer reverter as conquistas da revolução popular de 2011, a qual obrigou Hosni Mubarak a abandonar o poder após três décadas de domínio absoluto. Desde 14 de agosto, o novo governo lançou a polícia e o Exército em uma onda de repressão extremamente sangrenta contra manifestantes que pedem o retorno ao poder de Morsy, primeiro presidente democraticamente eleito no Egito.
Mais de mil manifestantes pró-Morsy foram mortos, e mais de 2 mil membros da Irmandade Muçulmana, à qual pertence o presidente destituído, acabaram presos. O projeto de Constituição revisada prevê manter um artigo que permite aos tribunais militares julgar civis acusados de "atrapalharem" as forças armadas - uma definição interpretada de forma ampla no Egito. Três jornalistas foram recentemente condenados por tribunais militares em virtude deste artigo. A questão dos processos militares de civis é um ponto de discordância entre os membros do Comitê dos 50.