A ofensiva diplomática lançada pelo presidente iraniano, Hassan Rohani, alcançou em apenas cem dias de governo resultados espetaculares, com a assinatura de um acordo nuclear com as grandes potências, que abriu perspectivas inesperadas no Oriente Médio.
O acordo, válido por seis meses, limita as capacidades de enriquecimento de urânio e o desenvolvimento do programa nuclear iraniano, em troca de um levantamento "limitado e reversível" das sanções e a libertação de uma parte dos recursos iranianos congelados no sistema financeiro internacional.
Segundo Afshon Ostovar, especialista do Irã no Centro Americano de Pesquisas (CNA), o texto reflete o esperado por Rohani de forma "realista" nas três rodadas de negociações desde meados de outubro com o grupo 5%2b1 (Estados Unidos, China, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha).
O presidente iraniano, considerado um moderado, e seu ministro de Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, um diplomata aguerrido, "sabiam o que podiam obter ao negociar com os ocidentais, e o que não obteriam", afirmou Ostovar, reforçando a importância do apoio do guia supremo, aiatolá Khamenei, para a política de Rohani.
Hassan Rohani assumiu funções no começo de agosto depois de ter vencido no primeiro turno as eleições de meados de junho. Apoiado por moderados e reformistas, prometeu reativar o diálogo com o Ocidente para por um fim à crise nuclear e também com as monarquias sunitas do Golfo.
No fim de setembro, na Assembleia Geral da ONU, sua primeira grande viagem internacional, prometeu "fornecer a garantia" de que o programa nuclear de Teerã, do qual os ocidentais suspeitam que busque fabricar a bomba atômica, era puramente pacífico.
Rohani também condenou o Holocausto, enquanto seu antecessor, Mahmud Ahmadinejad, o tinha qualificado de "mito".
Por último, rompeu um tabu ao telefonar para o colega americano, Barack Obama, algo inédito desde a Revolução Islâmica de 1979. Chegou até a mencionar a possibilidade de uma abertura entre Teerã e Washington, que romperam relações diplomáticas há 34 anos.
Em Nova York, Zarif também quebrou um paradigma ao se reunir com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry.
A aproximação do "Grande Satã" americano despertou a ira dos intransigentes do regime e o guia supremo o repreendeu, mesmo ao reiterar sua confiança no presidente, qualificando uma parte da viagem como "deslocada".
[SAIBAMAIS]No entanto, um alto funcionário americano revelou neste domingo a existência de várias reuniões diplomáticas secretas entre os dois países inimigos desde setembro.
"Tivemos tantas conversações com os iranianos desdre a eleição do presidente (Hassan) Rohani", em junho, disse este encarregado que pediu para ter sua identidade preservada. Estas reuniões "limitadas" eram destinadas a "reforçar as negociações no âmbito do grupo 5%2b1", acrescentou.
Segundo o analista Mustafá Alani, do Centro de Pesquisas do Golfo, com sede em Genebra, os contatos começaram em 2010 e eram celebrados no sultanato de Omã, considerado um mediador de confiança.
As monarquias sunitas do Golfo, inquietas com a vontade do Irã xiita de se tornar novamente um ator regional maior, "estavam a par das negociações, mas não de seu conteúdo".
Hassan Rohani buscou também renovar os laços com os países europeus, reunindo-se em particular com seu colega francês, François Hollande, em Nova York. A última entrevista neste nível ocorreu em 2005.
Ele também falou por telefone com o premier britânico, David Cameron. As relações entre os dois países estavam congeladas desde o final de 2011. Londres tinha fechado a embaixada iraniana depois do saque dos locais diplomáticos britânicos em Teerã.
As relações foram retomadas em novembro com a nomeação de encarregados de negócios não residentes.
A diplomacia iraniana tenta também melhorar suas relações com as outras potências regionais, como Turquia e Arábia Saudita.